Gestão Sustentável da Agricultura Familiar alavanca produção leiteira
A família Zandoná, de Fagundes Varela, atua na produção de leite há cerca de 30 anos, tendo como atividades secundárias a suinocultura, pecuária de corte e produção de milho. No início de 2017, Leinor e Rosiclé ingressaram no Programa Gestão Sustentável da Agricultura Familiar, buscando melhorar os resultados obtidos com a produção de leite. “A gente não produzia como esperava, como gostaria, e não fazia dieta, nem manejo dos animais”, diz Leinor. E apesar de sempre ter feito algumas anotações da atividade, ele conta que não eram muito detalhadas.
Com o auxílio da Emater/RS-Ascar, a família implantou pastagens perenes, aumentando a área de tífton 85 e introduzindo trevos vermelho e branco. Além disso, intensificou o uso de pastagens em pastoreio rotativo e melhorou o manejo da dieta do rebanho, a fim de incrementar a produtividade leiteira e reduzir custos de produção, tudo isso aliado ao controle econômico da atividade.
Após um curto espaço de tempo, os resultados começam a aparecer, no ano de 2016, a família produziu em média 585 litros por dia e, em 2017, a produção aumentou cerca de 25%, passando a quase 730 litros ao dia. Leinor diz que está muito satisfeito com o acompanhamento da Extensão Rural e Social. “Eu só tenho a agradecer, a produção aumentou bastante. Eu não esperava isso, mas o técnico explicou que tinha potencial, e eu quero aumentar ainda mais”, comenta.
Além do aumento de produção, o custo de produção de leite vem diminuindo. Na safra 2016/17, o custo por litro de leite produzido ficou em R$ 0,68, e, no segundo semestre de 2017, já reduziu 6%, ficando em R$ 0,63. “O objetivo é diminuir ainda mais os custos de produção nos próximos anos, para que se possa trabalhar com uma margem de 50% do preço do leite, mesmo com os baixos preços recebidos, já que, nesse mesmo período, os preços recebidos pela família caíram mais de 20%”, relata o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Leandro Ebert.
“De um ano pra cá, o preço do leite caiu, mas agora temos um controle, temos números que mostram a nossa realidade. E nós conseguimos baixar o custo e aumentar a produção sem fazer investimentos, só com algumas mudanças. Estamos vendo que estamos colhendo os frutos”, afirma Leinor, que destacou, ainda, a importância da disponibilidade do técnico da Emater/RS-Ascar, do conhecimento e da cobrança para que os produtores sigam as recomendações dadas para a obtenção de bons resultados.
Entenda o Programa de Gestão
O Programa de Gestão Sustentável na Agricultura Familiar, que foi instituído em 2016, sob coordenação da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) com execução da Emater/RS-Ascar, tem por objetivo promover a gestão e adequação socioeconômica e ambiental das propriedades rurais familiares do Rio Grande do Sul.
De acordo com o coordenador estadual do Programa e extensionista da Emater/RS-Ascar, Célio Colle, no programa são levantados indicadores de impactos econômicos, sociais e ambientais, que são acompanhados pela elaboração de planos de gestão e executados por meio das ações de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social. “Através desse trabalho, busca-se inovar a forma de atuação dos técnicos de extensão rural e qualificar o processo de tomada de decisão, além de contribuir com a geração de políticas públicas, aumentar a renda e a inclusão social e produtiva das famílias rurais”.
O presidente da Emater/RS, Clair Kuhn, destaca que a meta do programa, de 2016 até 2019, é sensibilizar 40 mil famílias, com adesão mínima de 20 mil famílias em todos os municípios do Estado. Além disso, cada escritório municipal deverá definir dois estabelecimentos de referência para a geração de indicadores de impacto na área econômica, social e ambiental durante a execução do Programa, totalizando 984 em todo o Estado. “O principal objetivo é aumentar em, pelo menos, 20% a renda das famílias envolvidas através da adequação das atividades produtivas derivadas da nova sistemática de gestão, bem como aumentar a produção e produtividade”.
Colle ressalta que, no primeiro ano de execução (2016), 11.087 famílias receberam informações sobre o Programa com 5.039 adesões. Em 2017, mais 12.311 famílias receberam informações com 5.722 adesões. Para 2018, serão 10 mil famílias sensibilizadas e mais 5.060 adesões. “As famílias que, por livre escolha participam do Programa, recebem as orientações e avaliações definidas no Plano Anual de Gestão que é reavaliado pela equipe técnica e a família no final de cada ano”.
Kuhn acrescenta que as ferramentas empregadas, com destaque para o diagnóstico econômico, social e ambiental, geram informações sobre a situação do estabelecimento e da família apontando pontos críticos e pontos fortes para promover os ajustes necessários e possíveis pactuados entre a equipe da Emater/RS-Ascar e a família. Essas ações pactuadas são apresentadas no Plano Anual de Gestão. “Dentre as ações previstas para a família deverão constar as necessidades sociais, por exemplo, melhorias nas residências e no entorno, produção para o consumo da família, as necessidades ambientais, por exemplo, o saneamento básico, o abastecimento de água e econômicas como o ajuste técnico no rebanho bovino, ações que levam ao aumento da produtividade das culturas e criações associadas ao aumento da renda agrícola”.
Colle afirma que para administrar com eficiência (fazer a coisa certa) e eficácia (alcançar os resultados esperados), de uma unidade produtiva, é imprescindível, dentre outras variáveis, o domínio da tecnologia e do conhecimento dos resultados e dos gastos com os insumos e serviços em cada fase produtiva das atividades, que tem no custo um indicador importante das escolhas do produtor. “Neste sentido, apesar do curto período de execução do Programa os estabelecimentos acompanhados mostraram que é possível realizar ajustes técnicos, dada a ociosidade e/ou mau uso dos recursos disponíveis”.
Sucessão familiar
O presidente da Emater/RS, Clair Kuhn, considera o Programa de Gestão Sustentável primordial para a garantir a sucessão familiar. “Desde que cheguei na Instituição, o pano de fundo de todas as atividades é a sucessão rural: o jovem assumir a propriedade do pai com condições. E esse debate em termos de gestão da propriedade, ao aderir ao Programa de Gestão, envolve toda a família. E o filho começa a participar, isso faz com que ele aprenda o que o pai tem de atividade e desenvolva gosto por isso. E que o pai possa abrir a propriedade para que o filho possa estar assumindo. Porque se não tiver gerenciamento, não tem rentabilidade e o jovem não fica no campo. Essa é a grande meta, ficar na propriedade rural tendo renda e lucratividade, cuidando do meio ambiente e da área social. Mas o jovem tem de estar incluído nesse processo”, avalia Kuhn.
Comentários