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Voto pelos meus (I)

Miguel Debiasi

A pedido dos leitores, escrevo sobre o acontecido no domingo dia 17 de abril, que entrou para a história política do Brasil, teve ampla divulgação nos meios de comunicação e deu motivo para chacotas internacionais. Na coluna de hoje abordo a motivação que iniciou o processo de impeachment e seus atores políticos. A segunda focaliza algumas interpretações em defesa da democracia. A terceira trata da repercussão do acontecido em nível mundial.

“Voto pelos meus ...”, foram as palavras mais pronunciadas na votação. Na sessão da Câmara, em Brasília, transmitida ao vivo em cadeia de rádio e TV, os votantes iniciavam com frases como: “Em nome das minhas filhas; em nome da minha esposa; em nome da minha família; em nome dos meus eleitores, voto sim”. Foi o bordão dos deputados federais favoráveis ao impeachment. Um domingo típico da política brasileira. Ingredientes políticos hilariantes, patéticos e cômicos não faltaram para tal momento histórico, quando a Câmara dos Deputados votou pela aceitação da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma. Com isto o rito do impeachment prossegue, sendo o próximo passo a votação no Senado.

A proposta de cassação da presidente Dilma, protocolada pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, foi aceita e encaminhada pelo Presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Este deputado do PMDB responde a seis processos na justiça, dois no Supremo Tribunal Federal. É réu por desvio e lavagem de dinheiro, por ter contas no exterior não declaradas à Receita Federal e por cobrança de propina nos contratos da Petrobras e outras empresas. A motivação para Cunha encaminhar o impeachment tem uma única causa, incontroversa. Eduardo Cunha recebeu três votos dos parlamentares do PT favoráveis a instalar o processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara. Por vingança, propôs a cassação da presidente.

Astuto conhecedor das leis, Eduardo Cunha usa de manobras e de deputados subservientes ao seu domínio econômico e politico para que o Conselho de Ética da Câmara não avance contra ele. Por ora vencedor por suas indignas manobras políticas, constituiu uma comissão de abertura do processo de impeachment da presidente. A comissão foi formada por 65 deputados, dos quais 35 estão sendo investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. É estarrecedor que dos 500 deputados que compõem a Câmara Federal 60% respondam a processos ou sejam investigados por corrupção. Na honrosa pátria gaúcha, de bombacha e espora, dos 50 deputados do Rio Grande do Sul, 32 estão sendo investigados por corrupção. Tal cenário político com seus protagonistas dispensa qualquer comentário. Contudo, o processo de impeachment que iniciou por vingança política será votado pelo Senado Federal.

No próximo comentário leia algumas interpretações do acontecido em 17 de abril.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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