Solitário no meio da multidão
Assim ele andava em meio a muitas pessoas que iam, que vinham, que seguiam seu próprio destino... Conversava com algumas delas, mas não conseguia se conectar, olhar nos olhos e se enxergar nelas ou através delas.
Olhar para a solidão dele e do outro era intimidador. Torná-la sua amiga era um grande desafio, que se impunha, e por isso era importante, naquele momento, que ele não se enxergasse tão sozinho, que se sentisse parte do mundo – do mesmo mundo que continuava conscientemente a retornar.
Percebo que nós criamos uma solidão ainda maior diante do desamparo que nos invade em certas ocasiões. Pedir ajuda, liberta-nos dessa solidão imposta, aproximando-nos do outro e de nós mesmos. Descansar no colo do outro nos conecta com o nosso próprio colo, para podermos, então, ancorar-nos.
Ele precisou respeitar o espaço de cada um ao seu redor. Sentir-se ilhado, isolado ou aproximar-se de alguém, dependia exclusivamente dele, mas também era necessário que o outro permitisse essa aproximação.
Fazemos diariamente exercício de abandono e de solidão, que podem ser coletivos ou individuais, mas que inevitavelmente atingem o que há de mais humano em cada ser. Encontrar o seu valor em meio a solidão imposta é engrandecedor.
Abandono e solidão no colo de Deus, no colo do outro – que é uma célula de Deus – nos remete a cuidado, a acolhida. Entregar-se nas mãos desse outro/de Deus é vida que brota em lugares sombrios.
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