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Sentido do alimento

Miguel Debiasi

Nas últimas décadas a respeito da saúde tem-se ouvido muitos conselhos, orientação alimentar, recomendações sobre algo ser bom ou ruim. Em atenção a isso, é notória nas pessoas maior preocupação com a questão alimentar. Isto é um bom sinal de saúde pública, algo positivo. Contudo, um grande mercado midiático surgiu em torno da alimentação.

            Essa questão alimentar, obviamente, não está resolvida para as pessoas do século XXI. De qualquer modo, ao falar em alimentação não faltam gostos alimentares, receitas para qualquer paladar e profissionais qualificados. Ao pensar em comensalidade a cozinha é o centro da questão. Ainda que não se saiba preparar uma deliciosa refeição, é na cozinha que as pessoas despertam a vontade de sempre aprender e criar algo. As mães sempre têm uma moda de inventar e até de inovar receitas. Desde o mais comum prato ao mais sofisticado, criatividade não falta nas mãos das cozinheiras.

            Em razão disso surgiram os chamados gourmets, nome dado aos profissionais de arte culinária requintada. O termo gourmet está vinculado à ideia de “alta cozinha”, em francês haute coisine, associada à cultura culinária. Isto é, uma cozinha feita de forma criteriosa, com produtos de qualidade e artisticamente apresentada. Então, gourmet é um profissional conhecedor do paladar alimentar, de ricas iguarias e de bons vinhos, bebidas. Em vista desta prestação de serviço, é definido como um produto limitado, exclusivo, arrojado, com características únicas de posicionamento premium. Isto é, associado a um forte valor agregado. Atualmente a cozinha é o espaço da casa que ganha destaque em vista da preocupação e do cuidado com a saúde.

            Sendo a alimentação e a comensalidade experiência tão determinante na vida de todo ser humano, as refeições são algo imprescindível para a humanização. Para compreender o que isto representa, convém saber de fato o que um pai sente ao ver seus filhos passarem fome, privados de uma mesa farta e saudável. Essa experiência obviamente não é fácil de entender para quem vive a participar de grandes banquetes. A experiência da alimentação ou da comensalidade é imprescindível e determinante para todos, pois não é apenas alimentação de boa qualidade que as pessoas encontram ao sentar-se à mesa. Mas, algo mais profundo, uma experiência que dá sentido à totalidade da vida e das relações. Antes de tudo, alimentação além de ser sinônimo de vida, sustento do corpo, é a razão pela qual consumimos energias, é a busca da dignidade, da felicidade e do prazer de dividir com outro. A experiência de partilhar a mesa e a alimentação é muito mais do que ganhar calorias. É ver nossa humanidade tornar-se alteridade, elemento constitutivo das relações humanas.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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