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Revolução do gênero feminino

Miguel Debiasi

O século XX pode ser considerado como o do movimento feminista, o qual preconizou debate em torno dos gêneros e ampliou os direitos civis e políticos das mulheres. Por consequência houve avanço da produção intelectual feminista, em especial no campo da ciência teológica. Seguramente o movimento feminista conquistou brechas de uma nova cultura.

É incontroverso que o século passado ouviu o grito das mulheres. Com isto as enciclopédias de ciências humanas foram contempladas com novos conteúdos e paradigmas. Muitas são as protagonistas do movimento feminino. Para registrar precursoras do feminismo, aparecem entre elas Olympe de Gouges, com a Declaração dos direitos da mulher, publicado em 1791, e Mary Wollstonecraft, com seu livro Reivindicação dos direitos da mulher, de 1792. O tema comum dessas obras é a “falta de acesso das mulheres à educação e a impossibilidade do exercício pleno da cidadania”. É parte primordial deste debate “o direito das mulheres à educação, ao voto e à propriedade, reivindicação do sufrágio no século XIX”. Ao determinar essas questões cruciais o debate chega ao século XX incluindo outros temas como “trabalho e igualdade salarial, direitos reprodutivos e violência contras as mulheres”. Com certeza esse debate é plausível para toda a humanidade, por estar articulado sob o prisma da cidadania.

Assim, o feminismo do século XX prenuncia novos tempos e nova cultura. O caloroso debate não consistiu em dar um caráter novo às velhas coisas, mas ressaltar que mulheres são parte de nossa história, tradição, e da memória coletiva. Para reconfigurar o processo civilizatório o debate feminino almeja reconstruir o significado do mundo de forma mais integrada entre os gêneros. Ressignificar a trajetória da humanidade não significa apagar as marcas dolorosas estampadas nos corpos e nas mentes das mulheres. Identificar as causas da memória dolorosa feminina permitirá expressar linguagens capazes de mover medos, sofrimentos, tabus, preconceitos que ameaçavam as relações de justiça entre os seres humanos.

Com tudo que está sendo proporcionado por este debate de gênero feminino certamente toda a humanidade ganhará. Dessa forma, o movimento feminino mostra-se um caminho pedagógico e político capaz de, em meio às contradições sociais e históricas, resgatar a ética da tradição evangélica. Nisto é importante perceber as brechas literárias que os sistemas patriarcais não conseguiram sufocar, como a riqueza espiritual e humana de homens e mulheres criados em iguais condições e direitos. Certamente é uma diferença histórica o movimento de Jesus, constituído de homens e mulheres, que apontou uma experiência mais integradora do que a estabelecida pela cultura de seu tempo. A leitura da práxis de Jesus permite a inspiração de relações de justiça e de solidariedade entre os gêneros.

A esse respeito, importante contribuição da teologia feminista e para o movimento feminino foi a publicação da obra Woman´s Bible (Bíblia da Mulher) pela teóloga Elisabeth Cady Stanton, em 1895. A fundação, por mulheres católicas, da Aliança Internacional Joana D'Arc em 1898 nos Estados Unidos, e em 1911 na Grã-Bretanha, foi outra grande contribuição para a humanidade. Soma-se como significativa contribuição a este debate a ordenação de mulheres pelas principais igrejas protestantes em meados do século XX. Almejar às relações humanas, sociais, políticas e culturais a igualdade e amor entre os gêneros são sinais de nova cultura para o século XXI

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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