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Onde está Deus?

Vanildo Luiz Zugno

Onde está Deus? Onde está Ele que não faz nada? Por que Ele me abandonou?

É a pergunta que muitos se fazem nos momentos de dor e sofrimento, seja individual ou coletivo. A doença e a ameaça de morte, consequência de catástrofe natural ou da ação humana, colocam em cheque a própria vida e, na sua radicalidade, exige uma resposta daquele que é a razão de nosso viver. E, para quem tem fé, em Deus deveria estar a resposta que parece não se manifestar.

É uma velha pergunta que já foi colocada em toda a sua crueza no Livro de Jó da Bíblia cristã. O autor do livro da tradição sapiencial judaica, não encontra resposta para a pergunta. Simplesmente aceita o fato e faz uma afirmação radical de fé: Deus não é a causa de nossa desgraça. Mas o Livro de Jó não responde o porque de Deus não fazer nada diante da dor e do sofrimento de seus filhos e filhas.

A fé cristã que nasce da experiência daqueles e daquelas que fizeram a experiência de Jesus de Nazaré, tem uma resposta contundente: Deus está presente naqueles e naquelas que padecem qualquer tipo de sofrimento e sofre junto com eles e elas. Deus é nosso compadecente no sentido radical da palavra: ele sofre conosco as dores e sofrimento e as assume como suas transformando-as a partir de dentro. Foi assim que Deus fez ao assumir a condição carnal no presépio de Belém e na cruz do Gólgata.

Em consequência dessa afirmação radical, o cristão é convidado a olhar o mundo a partir da condição e da situação dos crucificados de hoje. Por isso o cristianismo é religião de misericórdia e compaixão. É o que nos lembrou Jürgen Moltmann, um dos maiores teólogos das últimas décadas, falecido no dia de ontem. É da cruz de Jesus Cristo que nasce a Esperança para a humanidade. É dos crucificados da história que nasce um futuro diferente para a humanidade e para a criação.

A afirmação de Moltmann nos ajuda a pensar, a partir de nossa fé cristã, a situação das milhares de pessoas que tudo perderam nas enchentes do Rio Grande do Sul. Algumas delas perderam até mesmo a vida. E junto com as vidas humanas muitas vidas de animais, de plantas e da própria terra e água foram machucadas ou destruídas. Compadecer-se e ter misericórdia que se transforma em solidariedade ativa, é o caminho para acolher e afirmar o Deus presente em cada uma dessas vidas e, a partir desse sagrado encarnado, construir novas relações entre os humanos e com toda a criação para que Deus não mais seja crucificado em suas criaturas, pois é nelas que Ele está presente nos momentos de dor e sofrimento.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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