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O auditor e o supervisor da Lava Jato

Miguel Debiasi

 

Ainda é possível a honestidade? A honestidade é elemento basilar que constitui relações humanas e sociais. No entanto, parece que em sociedade contemporânea a honestidade deixou de ser um comportamento e perdeu importância. Em contrapartida, para um cristão a honestidade é virtude humana que deve ser potencializada diariamente.

A honestidade no sentido bíblico significa literalmente aquilo que é intrinsecamente bom. Pode-se dizer que a honestidade refere-se àquele comportamento que inspira toda correta ação humana. Em razão disto o cristão é chamado a ter um comportamento honesto: “estamos convictos de possuir uma consciência boa, com a vontade de nos comportar bem em toda ocasião” (Hebreus 13,18). Logo, a honestidade é virtude que realça a vida cristã, consequentemente, faz parte da conduta dos seguidores de Jesus Cristo.

Em contrapartida, a desonestidade fere a consciência ética do cristão. O desonesto corrompe as relações de convivência humana e social. No Brasil, o comportamento desonesto é tão reinante que segundo as informações do Banco Central, divulgadas em 3 de outubro, o auditor fiscal que multou o Instituto Lula, Daniel Gentil e sua mãe, Sueli Gentil, possuem R$ 13,9 milhões depositados em 11 contas bancárias. Conforme agentes da Polícia e do Ministério Público Federal, constataram que um montante de R$ 10,9 milhões estavam na conta de Sueli. O montante de R$ 3 milhões está na conta do auditor Daniel Gentil.

Contudo, a desonestidade do auditor Daniel Gentil é uma ponta do iceberg da corrupção de servidores públicos. Primeiro, Daniel é membro da equipe de auditores encarregados de fazer uma devassa nas contas do Instituo Lula e da família do ex-presidente da república. Segundo, com a decisão desta equipe o ex-presidente foi penalizado com um valor que ultrapassa R$ 18 milhões. Terceiro, Daniel Gentil em conjunto com o supervisor nacional da Equipe Especial de Programação da Lava Jato, senhor Marco Aurélio Canal, foram presos por comandar um esquema de lavagem de dinheiro. Quarto, conforme investigação dos órgãos públicos Daniel Gentil é apenas um dos subordinados da Equipe Especial de Programação da Lava Jato. Quinto, pode-se proferir que os desonestos usam do poder público para condenar a outros enquanto eles próprios praticam corrupção.

O fato do auditor e do supervisor respinga na operação Lava Jato que está diante de grande problema: a medida que a investigação avança revela que seus agentes são inaptos eticamente a aplicar as leis da justiça. Por isso, não é estranho que agentes federais venham a público com um comportamento de estigmatização de pessoas, partidos, segmentos sociais. Dessa forma, a Lava Jato tornou-se um órgão jurídico que manifesta usar da investigação seletiva que com o passar do tempo perde credibilidade com a opinião pública.

É, na verdade, a fragilidade do ser humano uma constante como indica a Palavra de Deus: “A inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude” (Gênesis 8,21). Todo cidadão honesto sabe que uma sociedade justa de lei igual para todos depende da ação pessoal e coletiva íntegra. A luta contra a corrupção não pode ser conduzida por corruptos. O Brasil encontra-se diante de um grande problema social, de expurgar aqueles que invocam direito irrestrito para seus atos e os negam a outros cidadãos.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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