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Muro com o dinheiro alheio

Miguel Debiasi

 

Num sistema capitalista em crise econômica aflora interesses, ambições nacionalistas e sobra ‘salvadores da pátria’. Os ‘salvadores da pátria’ mesmo incapazes de compreensão da atual crise do sistema, procuram com seus discursos venderem esperanças que nunca se tornarão realidade. Na prática, prometem soluções que ao longo do tempo não passam de inútil palavrório, entre muitos o presidente dos EUA Donald Trump é a caracterização dos ‘salvadores da pátria’.

A política liberal tratou de construir dogmas econômicos e convencer-nos que devem ser aceitos com o mesmo respeito que os cristãos depositam nas Sagradas Escrituras. O principal dogma da economia liberal é da livre concorrência de mercado, total e irrestrita negociação na lógica da oferta e da procura sem regulação e intervenção dos Estados. Em defesa deste dogma econômico, economistas e políticos liberais acreditam na tese que o desenvolvimento de um país se faz com a entrada de grupos econômicos estrangeiros, com empréstimos ao FMI a longo prazo, da privatização e da terceirização. Na mesma lógica, governos entregam de bandeja bens e patrimônios nacionais e serviços de infraestrutura aos grandes grupos internacionais. Ávidos pela ideia de um Estado mínimo, governantes usam seu ofício público em benefício de grupos econômicos estrangeiros ao invés de dedicarem-se com políticas públicas para o bem comum do povo. Porém, a história mostra que o resultado final são recessões econômicas, desempregos, sucateamento dos serviços públicos e empobrecimento do Estado e do povo.

Contudo, esses discursos e práticas ressurgem de tempo em tempo na geopolítica mundial a décadas. No último século nenhum país foi tão soberano no controle da economia como os Estados Unidos da América (EUA). Pela sua posição de domínio, os EUA se dão luxo de impor normas e regras para acordos econômicos com mercados e com países que comungam da mesma política. Num mundo em crise econômica, países subdesenvolvidos se obrigam a acordos bilaterais fortalecendo na maioria das vezes os interesses e ambições nacionalistas das poderosas potências. Na lógica da economia liberal, as relações entre países não visam um desenvolvimento bilateral, mas controle econômico por parte das potências sobre os endividados, subdesenvolvidos.

O fato é que a livre economia eleva a concorrência entre países e a disputa pelo domínio de mercado vira uma dependência das nações pobres. O dogma da livre concorrência é tão bem forjado que as potências e os grupos econômicos com suas ambições submetem países a seguirem seu guia e seu itinerário político. As reformas da previdência e a trabalhista que o Congresso Nacional aprovou são resultados desta política econômica neoliberal. As referidas reformas submeteram o Estado brasileiro as ambições dos grandes grupos econômicos e as cobiças estrangeiras. A política econômica liberal sob o comando do EUA não esconde de ninguém o seu interesse em dominar politicamente países latino-americanos, como pretende fazer com a Venezuela. A estratégia de dominação dos EUA normalmente inicia-se com uma guerra ideológica contra um determinado país, visando formar uma opinião internacional. Após a formação da opinião pública acontece a ocupação dos territórios estrangeiros como fizeram com o Iraque para saquear a sua maior riqueza, os poços de petróleo, hoje repete-se com a Venezuela.

Essa pressão política dos EUA contra a Venezuela tem se fortificado sob o comando de Donald Trump que constantemente almeja um golpe contra o governo venezuelano. O fato é que o golpe está em curso, cerca de 24 bilhões de dólares em ativos públicos venezuelanos foram apreendidos por países estrangeiros, principalmente por Washington e os estados membros da União Europeia. O governo de Donald Trump saqueou nada menos de 601 milhões de dólares venezuelano para financiar a construção do muro fronteiriço com o México, conforme prova documentos divulgados pela Univision. E roubo não parou por aqui, o governo de Donald Trump apropriou-se de 1 bilhão de dólares dos fundos públicos venezuelanos. Bem como, apropriou da joia da coroa de Caracas, a refinaria de Petróleo Citgo, distribuidora e revendedora de petróleo e produtos derivados. A Citgo é uma subsidiária da empresa estatal venezuelana PDVSA. A sede da companhia está localizada na cidade de Houston, Texas, EUA. Isto tudo para financiar a construção do vergonhoso muro fronteiriço com o México.

Logicamente os beneficiados do roubo dos dólares venezuelanos pelo governo Donald Trump é a economia liberal a manter os países da América Latina como colônia dos EUA. Ademais, a política liberal imperial almeja instalar suas estruturas semifeudais, regimes coloniais e requisitando toda liberdade econômica para explorações agrícolas, minerais, comercial, industrial, tecnológica, ecológica em solo latino-americano. Em suma, o país mais poderoso economicamente fomenta sua economia com o dinheiro alheio, diga-se de uma tremenda injustiça, praticada contra o pobre povo latino-americano como o venezuelano. Tremenda injustiça que corre impunemente aos olhos da mídia e do

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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