Acorda, acorda, vem brincar comigo! - dizia a criança em meu sonho... Ela saía de dentro de mim, pegava-me pela mão e puxava-me para vida... Pelos jardins afora me ensinava novamente a brincar e a dançar. Eu já não a conhecia mais, também tinha esquecido como brincar, mas o contato com ela me remetia a recordações meigas, de uma época que passou por mim, de uma vida que tinha ficado, há muito, esquecida...

Essa voz me desacomodava, me tirava de uma rotina que não tinha espaço para brincadeiras...  simultaneamente ela me devolvia a doçura nos lábios. 

Naquele sonho divaguei, numa leveza de gestos e sentimentos.  Tudo me remetia a algo sutil e  fluído vivido... Fui ao encontro dessas recordações. Ali, naquele momento, me senti plena, amada, amando e amável.

Esse sentimento me buscava das profundezas para algo não planejado, nem imaginado. E dessa vez eu seguia com passos tranquilos, ao encontro da vida que existia dentro de mim... Aquela centelha me convidava para me lançar na leveza das brincadeiras vividas.

A sensação de me encontrar comigo criança me deixava mais inebriada ainda. A sonoridade me acompanhava por caminhos que há muito não percorria, aqueles em que suaves recordações vinham me abraçar, aqueles em que me sentia liberta, leve, plena...

A criança sorrindo semeava uma sensação que já não experimentava há muito tempo.

Despida de mim mesma, da porção que reconhecia presente, senti a renovação ecoar em mim...

Acordei com gosto de saudades entre meus lábios e plenitude no coração, querendo reaprender a brincar...