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Interpretação da Escritura (II)

Miguel Debiasi

Teologia e cotidiano é a temática desta crônica, em continuação à reflexão anterior. O cotidiano é aquilo que amamos profundamente. E teologia é a ciência que nos ajuda a entender a ação de Deus na vida cotidiana. Então, teologia e cotidiano são a valorização profunda da fé e da religiosidade do povo e de sua cultura. O mundo é mais mundo porque o valorativo da fé e religiosidade faz a diferença. É algo a ser observado com sabedoria e com respeito.

A teóloga brasileira Ivone Gebara corrobora neste sentido fazendo a distinção entre o que se chama conhecimento da vida cotidiana e o conhecimento filosófico ou científico. O conhecimento da vida cotidiana está ligado à valorização do contexto da vida, circunstâncias, cultura, social, política, além dos interesses grupais e individuais. É o lugar onde se condiciona a confiança e a desconfiança da valorização da vida humana. O conhecimento filosófico é o espaço onde ocorre absolutização do saber acadêmico em detrimento do saber popular. Para a teóloga, no âmbito da teologia isto significa “o monopólio da Palavra de Deus por parte dos intelectuais da religião”. Isto é, a relativização do saber acadêmico, por vezes utilizando-se da manutenção de ideologias opressoras do sistema. Nisto a teologia tornou-se a crítica do movimento da vida. Para a teóloga Luce Girard é preciso expor a invenção do cotidiano. Isto é, a teologia precisa interessar-se pelos produtos culturais oferecidos pelo cotidiano e pelos seus operadores e usuários. Afinal, é o crente que faz saber religioso e que age com outras pessoas, comunidades, instituições. O que importa aqui é ressaltar a riqueza e a sabedoria da vida e acerca das práticas cotidianas.

Em se tratando de religiosidade na vida cotidiana, ainda que os teólogos sejam responsáveis pelas coisas de Deus, isso não significa que as pessoas não pensem e que não tenham compreensão das coisas de Deus. As razões para este cuidado teológico é porque as pessoas se ocupam com a experiência de Deus em sua vida pessoal. A compreensão de Deus acontece no dia a dia na história de vida do povo. É imprescindível para a teologia olhar o fascínio da religiosidade popular articulada de forma inteligível. É o reconhecimento das relações cotidianas que produzem símbolos e saberes religiosos e teológicos. A partir desta compreensão é preciso realizar uma leitura crítica da interpretação da Sagrada Escritura desligada da vida. Em contexto latino-americano a leitura bíblica não pode estar voltada para o passado, mas sim para o cotidiano das pessoas exploradas, marginalizadas pelo sistema. Isto é, a linguagem teológica latino-americana é o contingente das pessoas oprimidas, empobrecidas, vítimas da violência sistêmica. Leia na próxima crônica a Bíblia em perspectiva e práxis latino-americana.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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