Deus também é mãe
Falar de Deus é algo temerário. Por mais que nos esforcemos para escolher as palavras, sempre podemos dizer algo inadequado a seu respeito. Nunca temos a palavra exata e completa para dizer quem Ele é.
O melhor caminho para não calar – já que quem experimenta Deus quer sempre comunicá-lo aos outros – é o uso de metáforas. Através de algo que nos é familiar, tentamos dizer a realidade divina que transcende à capacidade de nossas palavras.
Na tradição judaico-cristã, uma das metáforas para dizer quem é Deus, é a da figura do Pai. Dizemos que Deus é Pai. Mas não é pai no sentido da paternidade humana. Mas, a partir da paternidade que todos, como pais e/ou como filhos, experienciamos, podemos dizer algo a respeito de Deus.
Mas a metáfora do Pai não é a única possível. Há muitas outras. Entre elas, está a metáfora da mãe. Na Bíblia, várias vezes, Deus é designado com figuras femininas. O próprio Jesus as utilizou. Ele comparou Deus e seu reino com a mulher que faz pão. Comparou também com a mulher que varre a casa para achar a moeda perdida e, quando a acha, faz festa com as amigas e vizinhas. E se comparou a si mesmo com uma galinha que, para proteger seus pintinhos, os quer esconder sob suas asas.
Existe outra passagem em que Jesus revela o rosto materno de Deus. Na chegada a Jerusalém, num momento de muita tensão entre os discípulos e do conflito de Jesus com as autoridades judaicas, ele diz aos que o seguem: “Na casa de meu pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos um lugar.”
Leiamos esta frase a partir da experiência de filhos. Nos momentos de dor, sofrimento, tensão, desesperança... para onde corremos a fim de encontrar abrigo e proteção? A grande maioria, senão todos, busca a casa da mãe. É lá que se encontra a proteção e o conforto para sanar as feridas e recomeçar.
E mesmo quando a briga é entre irmãos, todos, um de cada vez, vão correndo para a casa da mãe apresentar sua queixa contra os outros. E a mãe acolhe, escuta e acomoda cada um de modo que todos possam voltar a conviver nas muitas moradas existentes no seu coração.
Uma metáfora bonita em que Jesus, mesmo chamando Deus de Pai, apresenta-o com o rosto e o coração de mãe. Uma linda comparação que nos desafia a pensar e dizer Deus não apenas com nomes e símbolos do masculino. Mas a incluir o feminino na nomenclatura e caracterização divina.
E, na prática do dia a dia, num mundo dividido por todo tipo de tensões e desigualdade, nos impulsa a superar as diferenças e divergências para que todos e todas possamos ter uma morada pacífica na casa comum de Deus-Mãe, seja ela a nossa família, a Igreja, a sociedade ou a criação.
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