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Ano Novo, origem e sentido da celebração

Miguel Debiasi

A esmagadora maioria das pessoas celebra a entrada de ano-novo. Esta é uma celebração muito antiga e que hoje ganha novos elementos. Mas qual a origem desta celebração? Qual a razão desta celebração? Na celebração de passagem de ano há a esperança que um novo ciclo da vida que se inicia?

Para os antropólogos, a celebração de entrada de ano-novo está relacionada aos nossos ancestrais de aproximadamente de 13 mil anos atrás. Sua origem está associada à atividade da vida nômade, período histórico em que as pessoas eram excelentes caçadores. Os nômades se deslocavam de territórios a outro em busca de abundantes caças, pois a escassez de seres vivos comprometia a subsistência dos grupos, das tribos.

No percurso dos séculos um fator importante foi o desenvolvimento do conhecimento e intelectual de nossos ancestrais, a ponto de conhecerem os territórios, as estações do ano e as épocas abundantes em caças. Na evolução do conhecimento atingem a maturidade biológica, onde os grupos e tribos começam a praticar algo que podemos denominar como religião.

Com a instituição da religião os grupos sociais se mantiveram unidos e coesos pelos ritos religiosos. A prática religiosa gerou um sentimento de unidade e de pertencimento, que posteriormente, foi visto como protótipo daquilo que vai ser chamado de nacionalidade. Em contrapartida, nossos ancestrais organizados em grupos sociais se transformaram com passar dos séculos nos maiores dominadores e predadores da natureza.

A questão ambiental seria um primeiro grande problema para os nossos antepassados, como exemplo, a caça indiscriminada diminui o número de animais que habitualmente serviam de alimento. Esta situação nesse momento histórico representou uma das primeiras grandes crises que passaria à espécie humana. Nesse caso, a vida humana estaria ameaçada por um fato biológico, da escassez de proteínas animais.

Este problema não foi um fenômeno global, embora apareceu para as várias tribos e grupos ao mesmo período. Também não foi algo puramente localizado e isolado, até porque, mesmo vivendo em situação de quase total insulamento, os grupos algumas vezes mantinham contato para guerrear e disputar territórios e caça.

Com a evolução das técnicas de domínio de territórios a solução encontrada para essa situação de guerra não foi muito diferente da que se pratica atualmente. Em vez de imprimir dinheiro como fazem os bancos centrais para financiar as guerras atuais, nossos ancestrais apostaram em cultivar sementes. Para o cultivo de sementes inevitavelmente tinham que respeitar os ciclos que os produtos da terra precisam cumprir em seu processo natural.

Do problema da falta de alimento e de animais para caça surge um novo ciclo da vida humana: nossos antepassados perceberam que o cultivo de produtos agrícolas permitia que se sustentasse uma quantidade maior de pessoas em um mesmo território. O resultado dessa maneira de viver foi gradativamente extinguindo o nomadismo e dando lugar a agrupamentos humanos sedentários, cada vez mais numerosos e consequentemente com instituições e práticas muito mais complexas.

No conhecimento dos territórios, de técnicas agrícolas, estações de caça surge um aprendizado essencial: a observação da natureza e de seus ciclos, cuja compreensão era necessária para determinar a hora de plantar, colher os alimentos e caçar. Nesse período histórico surgem os primeiros calendários, que marcam, não dias, meses, anos, séculos e milênios como os atuais, mas o período relativo às diversas divindades que nossos ancestrais entendem que estão relacionadas ao milagre de fazer brotar da própria terra a alimentação. Nisso já dá pra deduzir que nossos antepassados acabaram percebendo que os ciclos da natureza têm começo e fim, e que as etapas mais importantes desse processo precisavam ser cultuadas e celebradas.

Por estas razões naturais e culturais o início de tudo – o ano-novo – recebia dos antepassados uma atenção toda especial: uma celebração à divindade. Na percepção que no início do novo ciclo de atividades agrícolas como de caças podia ocorrer incertezas, fazia-se necessário suplicar aos deuses da natureza as bênçãos. O novo ciclo ou ano-novo tornou-se um momento de maior confiança na divindade da natureza, daí ser celebrado com todo envolvimento. Tratava-se da celebração da esperança que se tinha renovado. Do novo ciclo ou do ano-novo e da confiança na divindade da natureza dependia a própria subsistência da vida. Qualquer semelhança com nossa cultura de celebrar a chegada do ano-novo não é mera coincidência, mas fruto de uma tradição histórica.

Aliás, conquistas e descobertas de nosso tempo estão associadas à vida de nossos antepassados. Tomemos como exemplo o avanço científico de nossa época. Quem poderia imaginar que o extraordinário conhecimento sobre o cosmo e os fenômenos astronômicos teriam sua origem na arte de observar os fenômenos naturais como do céu, estrelas, lua, algo indispensável para conhecer os ciclos da natureza. Os próprios signos do zodíaco, que são os dozes setores de 30 graus que compõem a órbita de 360 graus da Terra ao redor do sol, são observações e anotações de nossos antepassados para monitorar os movimentos dos astros e orientar seus trabalhos agrícolas.

Para a grande maioria da humanidade como para os cristãos o ano-novo é o momento que o ciclo se reinicia, ainda que venha acompanhado de uma outra marcação: o auge da estação fria no Hemisfério Norte também utilizado para reconhecer o funcionamento da natureza. A celebração do Natal e do ano-novo tem a ver com esse período determinado pela natureza, pelas estações do ano. Os romanos comemoravam o início do período gelado na Europa como celebração especial o Natalis Solis Invictum – Natal do sol invencível, uma tradição que recebeu o significado sagrado para aquele povo, no sentido de cultuar as divindades.

Hoje, seja qual for a razão e os ritos de celebrar a chegada do ano-novo, prolongamos a cultura de nossos antepassados de tornar o nosso tempo de esperança e de otimismo. Enfim, que a esperança e otimismo abrace projetos para o bem da humanidade, de fazer acontecer o próspero para todos, em especial, para os grupos sociais mais necessitados. Que o feliz ano-novo chegue a todos os povos do planeta Terra e que um novo ciclo da vida se inicie, alimenta nossa esperança cristã.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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