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A revolução de valores operada pelo Evangelho

Miguel Debiasi

A história é fruto da assimilação de valores apresentados pelos seres humanos. Valores culturais como os religiosos e morais foram tão precisos que viraram tradição, passados de geração a geração. À luz do Evangelho a mensagem cristã notabilizou uma das mais radicais revolução de valores da história da civilização. Aliás, a mensagem do Evangelho se coerentemente assimilada é uma constante revolução.

O filósofo alemão Nietzsche ao referir-se a mensagem cristã falou de seu poder de total subversão dos valores antigos. Para os teólogos, biblistas e filósofos a subversão tem sua formulação programática no “Sermão da Montanha”, que podemos ler no Evangelho de Mateus e Lucas. Em Mateus o ensinamento revolucionário de Jesus dado aos discípulos e a multidão é assim formulado: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino do Céus. Bem-aventurados os mansos, os aflitos, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos, os injuriados, os caluniados, porque deles é o Reino do Céus” (Mateus 5,3-12).

Em Lucas o ensinamento de Jesus aos discípulos e a multidão é formulado da seguinte forma: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados os que tem fome, os que choram, os que são odiados. E alerta dizendo: ai de vós, que agora estais saciados, que rides, quando todos vos bendisserem, pois do mesmo modo seus pais tratavam os falsos profetas” (Lucas 6,20-26). O ensinamento das “bem-aventuranças” indica que o juízo de valores de Deus é bem diferente do juízo de valores dos homens e do mundo. A discrepância entre os valores propostos pelo Evangelho e com os da cultura secular é muito grande e impossível de reconciliação plena.

Vejamos em Mateus um outro valor apresentado por Jesus aos seus discípulos e seguidores: “Sabeis que os governadores das nações as dominam e os grandes as tiraniza: entre vós não deve ser assim. O que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo” (Mateus 20,25-28). Jesus apresentando valores fundamentais, nos indica que é preciso assumir a simplicidade da vida e a pureza de uma criança, para poder fazer parte do Reino de Deus: “Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus” (Mateus 19,14). Pelo ensinamento de Jesus os valores exigidos para participar do Reino dos Céus não podem ser comprados por um cristão, mas são cultivados mediante a virtude da humildade. Convenhamos que a virtude da humildade não é tão familiar em nosso tempo e em nossa cultura.

A virtude da humildade, um valor daqueles que pertencem ao Reino do Céus, é um caminho desconhecido para os filósofos gregos e de nosso tempo. É algo simplesmente incompreensível. A humildade põe por terra os ideais do humano emancipado da fé. Põe por terra o ideal da sociedade consumista que valoriza a vaidade do mundo e de todos os bens exteriores e do corpo. Frente ao Evangelho cai por terra todo ideal do homem que acredita na sua indubitável liberdade conforme juízo de seu livre-arbítrio. Na carta aos Coríntios, Paulo nos propõe uma reviravolta no pensamento e na vida. Após ter suplicado três vezes a Deus para que o afastasse de uma grave aflição que o atribulava, Paulo teve a seguinte resposta: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta o seu poder” e conclui: “por conseguinte, com todo o ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo” (2Coríntios 12,9).

A vida cristã pode assimilar sem dúvida a mais radical revolução de valores da história da civilização. Segundo levantamento do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) numa década o país dobrou o número de favelas, palafitas ou os “aglomerados subnormais” passando de 6.329 de 2010 para 13.151 de 2019. A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que mais da metade (55%) dos brasileiros sofrem de algum tipo de insegurança alimentar durante o ano de 2020. O filósofo Nietsche chegou a falar da total subversão dos valores ao comentar a mensagem do Evangelho de Cristo. Nietsche nos diz que os cristãos quando fiéis ao Evangelho poderão subverter a história. Acreditando no ideal do Evangelho os cristãos poderão alcançar o fim último, realização do Reino do Céus. O Reino dos céus quando vivenciado é uma reviravolta na história, as favelas seriam transformadas em nobres bairros e cidade. A experiência real do Reino dos Céus é a esplêndida passagem da marginalização para inserção social, da pobreza para a vida humana digna, da injustiça para a justiça, da... Esse ideal opera o Evangelho e é possível também nos seus fiéis portadores.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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