Jesus Cristo chamou homens e mulheres, uns como apóstolos, e a Pedro deu a responsabilidade de coordenar sua missão e sua Igreja. Com efeito, desde seu nascimento a Igreja tem procurado executar a missão recebida de Cristo. Em razão disto, o Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, em seu Decreto Ad gentes, afirma: “A Igreja peregrina é por sua natureza missionária” (n. 2). Devido aos novos ambientes humanos, a afirmação do Concílio é extremamente importante porque aponta a missão à qual a Igreja precisa dedicar-se.

Em todos os períodos da história da humanidade o apostolado da Igreja foi trabalhar pela e na missão de Cristo. Dado ao tamanho da missão, a Igreja tem a consciência que é tarefa a nunca ser concluída. Neste sentido, em 1990 o papa João Paulo II afirmava em sua encíclica Redemptoris Missio: “A missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento”. É o que constatava João Paulo II: “no termo do segundo milênio após a sua vinda, uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão está ainda no começo e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço”. Na visão do papa a Igreja tem deixado a desejar em sua missão, havendo certo afrouxamento.

Durante o Concílio Vaticano II, refletindo sobre o papel da Igreja em contexto moderno, os padres conciliares sugeriram empregar o termo “missão”, e não o plural “missões”. Na época houve quem escrevesse após muitas reflexões sobre o tema: “Das missões à missão”. No entanto, o papa Paulo VI empregou o termo evangelização ao invés de missão, como expressa em sua encíclica Evangelii nuntiandi. O papa João Paulo II, na virada do segundo milênio, emprega o mesmo vocabulário, mas acrescenta outra palavra: “nova evangelização”. A quase duas décadas do início do terceiro milênio, a Igreja constituída de homens e mulheres e diferentes povos, reconhece que é necessário mais zelo pela missão de Cristo.

Em novos contextos de secularismo e urbanização do mundo, acredita-se ser necessário novamente perguntar: Qual é a verdadeira missão de Cristo? No final do século XIX chega-se à conclusão, com ajuda da teologia protestante, que a missão de Cristo é a Missio Dei, ou a missão de Deus. Como afirma o teólogo luterano Paulo Suess (nascido em 1938), a Missio Dei é a missão da Santíssima Trindade. Neste raciocínio teológico, a missão da Igreja é viver no seguimento dinâmico da Trindade Divina. Para o teólogo católico José Comblin (1923-2011), a missão da Igreja é viver o seguimento de Jesus perante ações libertadoras dos pobres. Devido à importância da missão de Cristo, as Igrejas cristãs elevaram a temática à disciplina em seus estudos teológicos. Como fruto desta reflexão teológica, há um consenso ecumênico de que a Missio Dei é a missão da Igreja. A eclesiologia do Concílio Vaticano II assume: “atividade missionária é, em última instância, a manifestação do propósito de Deus ou Epifania e sua realização no mundo e na história” (n. 9), Decreto Ad Gentes.

De modo geral, aceito o consenso ecumênico da natureza da missão da Igreja, há o reconhecimento do testemunho profético e ricas experiências eclesiais do passado que mantiveram o cristianismo presente na história e no coração da humanidade. Na verdade, reconhecem que a missão da Igreja soube contemplar todos os contextos e as realidades humanas, sobretudo os ambientes sociais de pobreza e miséria. Com base neste testemunho missionário, renovam-se nas comunidades cristãs os debates teológicos sobre a temática e qualidade do trabalho da Igreja em novos ambiente humanos, tão exigentes quanto os do passado.

Nesta convicção de fé e olhando para os exemplos dos apóstolos, como os de São Paulo, a Igreja que enviou homens e mulheres para anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo hoje tem a percepção da necessidade de fazer novos agentes que abracem esta Missio Dei. Ademais, há um consenso ecumênico de que o carisma missionário é dado a toda a comunidade cristã, em vista de que a humanidade acolha a Cristo. Finalmente, neste consenso e nesta fé ecumênica, certifica-se que a ampliação do trabalho pela missão de Cristo ganha força e sustenta-se em uma espiritualidade missionária do envio, de uma “Igreja em saída”, como pede o papa Francisco.