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A leitura da realidade do Papa Francisco

Miguel Debiasi

A compreensão daquilo que se passa pelo mundo é de fundamental importância para qualquer cidadão moderno. Em nossa era de planeta conectado virtualmente é relativamente fácil ter uma ideia do mundo. Certamente, trata-se de uma compreensão limitada da realidade. Devido a isto, será preciso outros instrumentos de análise da sociedade, do mundo, dos fatos. Embora com acesso a muitas informações, tem-se o desafio da leitura crítica dos fatos, sobretudo de natureza política.

Para melhor compreensão da situação existem muitos métodos de análise da realidade. Em ciências humanas e sociais tem-se usado a chamada análise de conjuntura, cujo objetivo é levar o analista à descoberta da realidade. Geralmente, este processo de análise usa o método ver-julgar-agir. Este método é simples, para dizer que não basta apenas ver a situação, precisa-se de um julgamento crítico dos fatos e, além do mais, de um agir para transformar a realidade. Os passos deste método de análise são muitos, como buscar ver quem são os personagens, cenários, as forças de poder, entre outros aspectos. De modo geral, uma análise de conjuntura do sistema mundial leva em conta as forças econômicas, a lógica do capital, o sistema político, sua articulação em nível transnacional e nacional, suas formas e mecanismos de controle do mercado e das pessoas.

Em suma, por este método, o primeiro passo da análise de conjuntura busca compreender os acontecimentos, os grupos ou classes sociais e a ação dos diferentes atores ou sujeitos envolvidos. O segundo passo é proporcionar um debate dos fatos através do confronto de ideias sobre as questões levantadas pela visão da realidade. Um terceiro passo da análise é propor às pessoas ações que transformem a realidade. No fundo, análise de conjuntura diz o teólogo Frei Luiz Carlos Susin “ser um método de conhecimento em contexto de um paradigma que sublinha uma consciência histórica, crítica e forte para o discernimento”.

Então, devido à necessidade de compreensão da realidade para poder julgar e agir, análise de conjuntura é imprescindível para o trabalho eclesial. Atualmente bispos, padres, leigos, leigas, teóricos, intelectuais, todos têm recorrido a esta técnica. Como não podia ser diferente, o papa Francisco tem manifestado a percepção da realidade mundial com uma leitura profunda e crítica dos fatos. No dia 17 de maio em sua homilia na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, alertou aos presentes que a mídia tem procurado usar métodos que “criam condições obscuras” para condenar alguma pessoa. O pontífice diz ser um “método com o qual perseguiram Jesus, Paulo, Estevão e todos os mártires e muito usado hoje”.

Também em sua homilia denunciou o avanço da política neoconservadora no mundo: “quando se quer fazer um golpe de Estado, a mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e difamação essas pessoas ficam manchadas”. E denunciou: “depois chega a justiça, as condena e, no final, se faz um golpe de Estado”. Ao manifestar compreensão da articulação internacional das forças políticas, o papa Francisco compara: “uma perseguição que se vê também quando as pessoas no circo gritavam para ver a luta entre os mártires ou os gladiadores”.

Por fim, o papa alertou em relação à mídia empresarial que se articula “na concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural”. Ao concluir sua homilia pediu aos presentes que rezassem pelos pobres do mundo diante das “estratégias das instituições financeiras e as empresas transnacionais que se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados e os mais pobres, produzindo muitas mortes”. O pontífice diz aos cristãos que uma compreensão inadequada da realidade leva às distorções da prática do Evangelho. Assim, se algo fica visível nos evangelhos, é que Jesus compreendia bem a realidade e por isso centrava sua atenção nos pobres e seu interesse na prática do Reino de Deus.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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