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Jubileu da Misericórdia deixa legado de reconciliação

por Felipe M. Padilha

Ano Extraordiário trouxe à tona as Obras de Misericórdia e mostrou a urgência do perdão e da compaixão

“Ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça.” Assim o Papa Francisco escreve sobre o encerramento do Ano da Misericórdia na bula Misericordiae Vultus (O Rosto da Misericórdia).

Iniciado em 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição de Maria e aniversário dos 50 anos de encerramento do Concílio Vaticano II, o Jubileu foi encerrado no domingo 20. Na basílica de São Pedro, em Roma, o Pontífice fechou a Porta Santa. Ela permanecerá lacrada até o próximo Ano Santo, em 2025.

Seguindo uma orientação do Vaticano, as dioceses do mundo inteiro e as basílicas papais de Santa Maria Maior, São João de Latrão e São Paulo Fora dos Muros, encerraram o Ano da Misericórdia uma semana antes, em 13 de novembro. No sábado 19, num consistório, houve a criação de 17 novos cardeais, dentre eles o arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Sergio da Rocha.

 No domingo 20, solenidade de Cristo Rei, os olhares do mundo se voltaram à basílica de São Pedro, onde Francisco proclamou o encerramento. “Muitos peregrinos atravessaram as Portas Santas e saborearam a grande bondade do Senhor. Agradeçamos ao Senhor por isso e recordemo-nos de que fomos investidos em misericórdia para nos revestir de sentimentos de misericórdia, para nos tornarmos instrumentos de misericórdia. Prossigamos, juntos, este nosso caminho”, lembrou o Pontífice.

A Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII, em 1300. A partir de 1475 houve a determinação de que os jubileus ordinários seriam realizados a cada 25 anos. O último fora realizado em 2000, às portas do Terceiro Milênio, nos dois mil anos do nascimento de Cristo.

Até hoje, houve 26 anos santos ordinários e três extraordinários. Antes do Ano da Misericórdia, em 1983, o então Papa João Paulo II deu início ao Ano Santo da Redenção, pelos 1950 anos da morte de Jesus. Ao final daquela comemoração, presenteou os jovens católicos com a Cruz Peregrina e criou as Jornadas Mundiais da Juventude.

Em 11 de abril de 2015, o Papa Francisco publicou a bula de convocação do Jubileu recém-encerrado. “Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes”, exclamou.

 

Porta Santa: simbolismo visível da misericórdia

Os jubileus convocados pela Igreja têm como sinal visível as Portas Santas. Elas são abertas nas catedrais, santuários e templos significativos das dioceses. São locais “onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança”, explica o Papa.

Nesses templos, os fiéis são convidados à conversão, confissão, oração e mudança de vida para lucrar a indulgência plenária. Ela oferece ao penitente meios para apagar a pena temporal dos pecados já confessados, ainda na vida terrena ou oferece-la às almas do purgatório.

Para o bispo da diocese de Caxias do Sul (RS), dom Alessandro Ruffinoni, o encerramento do Ano da Misericórdia é um sinal que o coração deva estar sempre aberto à compaixão. “Se foi fechada a Porta Santa das igrejas, não pode se fechar a porta do coração. Deve ficar aberta para acolher, perdoar e ser sinal de caridade. Perdoar é algo muito difícil, mas não impossível”, ressalta.

 

A importância das Obras de Misericórdia

O prelado lembra que o Ano Santo rebuscou algo que estava um pouco esquecido: as Obras de Misericórdia. Ele acredita que o Jubileu deixou um legado extremamente importante que mostra a necessidade cristã de ser testemunha da misericórdia divina. “Temos muita guerra, ódio, vingança no coração. Precisamos vivenciar o perdão. Por isso, o grande legado deste Ano é a vivência do perdão nas igrejas, com as confissões, nas famílias e no fortalecimento das relações humanas”, aponta.

Ao lembrar das 14 Obras, que se traduzem em ações de compaixão e cuidado com a vida, dom Alessandro se mostra contente. “Redescobrimos que existem as obras. Elas são maneiras simples e práticas de ser cristão”.

 

Vaticano divulga carta apostólica

O Vaticano publicou, na segunda 21, a carta apostólica Misericordia et Misera (Misericórdia e mísera), escrita pelo Papa Francisco. O texto assinala o final do terceiro Ano Santo extraordinário da história da Igreja. “Celebramos um Ano intenso, durante o qual nos foi concedida, em abundância, a graça da misericórdia. Como um vento impetuoso e salutar, a bondade e a misericórdia do Senhor derramaram-se sobre o mundo inteiro”, escreve Francisco.

No documento, o Pontífice faz alusão ao trecho bíblico em que Jesus se encontra com a mulher adúltera que seria apedrejada, no Evangelho de João. Dando seguimento ao estilo de Igreja mergulhada na “cultura do encontro”, o Papa toca num dos assuntos mais polêmicos da contemporaneidade: o aborto.

Ele concede aos sacerdotes a possibilidade de absolver as pessoas que incorreram nesse pecado. “Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar”, frisa.

Ao lembrar da crise matrimonial, pede aos sacerdotes que sejam responsáveis e façam o discernimento espiritual atento e profundo, para que toda pessoa, sem exceção, “possa sentir-se concretamente acolhida por Deus”.  Disse também, que essas pessoas devem se inserir na comunidade e se sentir parte do povo de Deus.

 

Igreja do Brasil se volta a Aparecida

Finalizado o Ano da Misericórdia, a Igreja do Brasil focará nos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida. A CNBB deu início, em 12 de outubro, ao Ano Mariano Nacional.

De acordo com dom Alessandro, a Igreja permanece fiel no incentivo e na prática da misericórdia, agora sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida. “Saímos do Ano da Misericórdia com esse legado muito importante e temos que agradecer a Maria, no Brasil venerada sob o título de Aparecida. Que o Ano Mariano nos ajude a ser compassivos como Maria”.

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