Romaria de Ibiaçá convida para celebrar ao lado de Maria a caminhada com Jesus
Peregrinação acontece nos dias 25 e 26 de fevereiro, na sua 65ª edição
Foto: Divulgação
Ibiaçá recebe nos dias 25 e 26, romeiros para a 65ª Romaria a Nossa Senhora Consoladora, com o tema “Com a Mãe Consoladora no Caminho de Jesus”. A programação prevê missas no sábado às 7h, 9h, 11h, 14h e 16h e terço no altar campal às 18h. Às 19h30 encerramento da novena, missa e procissão luminosa. No domingo, 26, haverá missa a partir das 5h15 no interior do Santuário, 10h missa campal, 13h missa no interior do Santuário e 15h benção e procissão
A devoção
A devoção a Nossa Senhora Consoladora começou em 1952, pelo padre Narciso Zanatta, ao assumir a paróquia de Santa Filomerna, no dia 10 de fevereiro daquele ano, sendo que a primeira manifestação de fé em torno da imagem começou em maio e dali para frente nunca mais parou, tendo o último final de semana de fevereiro como a data para a romaria. Mas a criação da paróquia ocorreu em 11 de agosto de 1947. A paróquia, hoje, Nossa Senhora Consoladora, se transformou em Santuário, no dia 22 de fevereiro de 1977, pelo então bispo Dom Henrique Gelain.
Por Decreto de Dom Cândido Maria Bampi, na época Bispo da Diocese de Vacaria, a Vila de nova Nova Fiúme passa à categoria de Paróquia, sendo nomeado seu primeiro pároco Pe Luiz Marino Lovatel. No dia 05 de maio de 1948, pela Lei Municipal, Nova Fiúme tornou-se distrito, sendo o 12º de Lagoa Vermelha e passou a ser chamado de Ibiaçá, que no dialeto indígena significa Fonte de Águas Cristalinas.
A devoção a Nossa Senhora Consoladora se desenvolveu rapidamente e transformou a modesta igreja em um grande Santuário Mariano. Essa projeção religiosa tem relação direta no desenvolvimento social e econômico do município, pois recebe devotos durante todo o ano, em especial na Romaria, que é realizada anualmente no final de fevereiro.
Origem
Todas as terras que hoje fazem parte do município de Ibiaçá eram de propriedade única de Dona Constança Augusta Bueno de Oliveira. Dona Constança vendeu uma área aproximada de 440 colônias de suas terras para Filomeno Pereira Gomes, que revendia em pequenas áreas e passava escrituras públicas a quem as comprava. As famílias se instalaram na localidade e formaram, então, a pequena vila denominada Vila Nova Fiúme, - nome escolhido para recordar a Itália, Pátria Mãe dos primeiros imigrantes e cuja topografia se assemelhava.
Os primeiros colonizadores eram italianos e chegaram em 1916, mas segundo informações, três moradores caboclos, de origem africana, já ocupavam o lugar. A família de Valentim Dalzotto chegou em Nova Fiúme no ano de 1921 e, em 1923, montou a primeira serraria para aproveitar os pinheiros e facilitar a construção das casas. Além desta, vieram outras 26 famílias, o que aumentou visivelmente a povoação que começava a crescer. Como todas as famílias eram católicas, em junho de 1924 construíram a primeira capela, atendida pelo pároco de Sananduva, Pe Geraldo de Gruffi. Este a consagrou de Santa Filomena, em homenagem a Filomeno Pereira Gomes, proprietário das terras e doador do terreno.
Com a emancipação de Sananduva, em dezembro de 1954, Ibiaçá deixa de pertencer a Lagoa Vermelha e passa a ser o 2º Distrito de Sananduva. Em maio de de 1965 a Município de Ibiaçá. Em 22 de novembro de 1965, emancipa-se o Município de Ibiaçá, sendo nomeado pelo governo da União o senhor José Antônio Pellin como Interventor Federal de Ibiaçá, empossado em 15 de maio de 1966.
A preparação
A coordenadora do apostolado da oração e das equipes que preparam as confissões, Cenira Trindadade Rafeninki, lembra que a comunidade de Ibiaçá, durante todo o ano a partir da escolha do tema, se dedica a preparar sempre a próxima romaria, através da oração, rezando pelos organizadores e romeiros que vieram pedir graças e bênçãos. Nas celebrações, estuda-se a vida de Maria comparada ao Evangelho, a caminhada do povo Cristão e procura-se seguir aquilo que Maria orientou.
Ela disse que o povo de Ibiaçá se dispõe a trabalhar para que a Romaria seja sempre um sucesso, pois sabe que os passos de Maria conduzem para o caminho de Jesus, que é o caminho da Misericórdia, amor e perdão. Segundo ela, Maria caminha conosco e nos proporciona a alegria de redescobrir a ternura de Deus para com nós. Ela utiliza uma frase do papa Francisco que na ocasião da abertura da Porta Santa em Roma disse “O filho de Deus que se encarnou para nossa salvação, deu-nos sua mãe, que se fez peregrina conosco e jamais nos deixou sozinhos no caminho da nossa vida, especialmente nos momentos de incerteza e de sofrimento”.
Cenira diz ainda, “a romaria proporciona ao romeiro, a oportunidade de caminhar junto com Maria e ao encontro com Jesus. A gente percebe que os romeiros vem até o Santuário para pedir e para agradecer as graças alcançadas nos momentos de dor, de sofrimento, especialmente na doença, no desemprego, na desunião da família, todo o tipo de dificuldade do dia a dia da família. Da mesma forma eles vem pedir à mãe, saúde, emprego e união da família. É emocionante ver as pessoas chegarem diante da imagem de Nossa Senhora, a impressão que se tem é que elas se sentem abraçadas pela mãe. Maria acolhe, acolhe e conforta, muitos entram de joelhos, já vem das escadarias, é grande a alegria quando chegam diante de Nossa Senhora. Por isso sentem-se abraçados pela mãe, choram e sorriem ao mesmo tempo, porque eles vem agradecer. Tem pessoas que vem de vários estados do Brasil e até do exterior, elas gostam e se sentem acolhidas pela Mãe Consoladora”, relata.
Perfil dos romeiros
O Padre Edson Priamo, reitor do Santuário, lembra que todos os anos é feita uma pesquisa nas romarias, entrevistando os romeiros para saber o que vão buscar no Santuário. O perfil do romeiro é como uma pessoa que está com o coração ardente de fazer uma experiência a mais daquela que faz na sua comunidade, na sua paróquia. É marcado esse momento da romaria como importante para o fortalecimento da fé, é o perfil de uma religiosidade católica, popular e que busca na proteção de Nossa Senhora Consoladora, viver bem sua vida. Também constatou-se que está crescendo a presença de crianças e jovens, nas últimas edições e aqueles que vão a pé até o Santuário. Para o padre Edson, são pessoas doentes que tem a necessidade e pessoas de todas as raças e idades. “Então eles vão porque é uma espiritualidade do caminho, uma espiritualidade que leva a uma casa que é um lugar sagrado”, entende.
Mãe caminheira
As romarias ocorreram todos os anos, sem sequer ter um ano de paralisação e sempre com um tema, que está sendo cada vez mais como uma alavanca. O objetivo é dar uma mensagem para o romeiro que se desloca até o local. Este ano o tema foi retirado de um documento do Vaticano II, onde todo o capítulo 8 fala de Nossa Senhora e no número 58 desse documento aparece um texto “Maria avançou na Fé”. Para o padre Edson, ela foi peregrina na fé e com esse tema se quer buscar na caminhada que Maria fez, o seguimento de Jesus, a partir daquilo que ela realizou, ou seja, o testemunho e exemplo de mulher, para que se possa caminhar na direção do filho dela. “Se a gente vai olhar o Novo Testamento, quantas vezes aparecem Maria de Nazaré, fala-se poucas vezes, não chega a 200 versículos, mas o pouco que aparece é fundamental para a história da salvação”, lembra. O religioso entende que todos os momentos ela aparece caminhando e por isso é uma caminheira, como nas Bodas de Caná, quando foi visitar Izabel nas montanhas de Judá, quando andou com José e Jesus para o Egito, esteve nas peregrinações para Jerusalém e com Simeão no Calvário.
Padre Edson recorda ainda que nos textos bíblicos que falam de Maria, quase sempre aparece ela caminhando. Por isso é preciso olhar os passos que ela deu, porque hoje estamos peregrinando muitas vezes sem rumo, e, para seguir o caminho certo precisamos seguir os passos que Maria deixou neste mundo enquanto esteve conosco, pois sempre indicou Jesus como o caminho do filho. Recorda que Maria aparece em três momentos fundamentais da história sagrada: na anunciação, Maria estava lá dizendo seu sim; no Mistério Pascal; no sofrimento de Jesus e na festa de Pentecostes, que marcou o início da igreja vinda do Espírito Santo.
O símbolo da 65ª Romaria é um par de pés, que segundo os organizadores tem toda a programação voltada para esse caminhar com Maria, mas também os nossos pés, semelhantes ao da Virgem Maria, que caminhou para gerar vida, gerar o filho de Deus e que sejam passos que produzem a solidariedade. “Os temas nos colocam nesta perspectiva de que nós precisamos caminhar, estamos num mundo em que não podemos ficar parados, estáticos, vendo o que acontece, nós somos impulsionados e quem nos oferece esse caminho sem dúvida é Jesus, ele diz eu sou o caminho, a verdade e a vida, mas quem, mais seguiu de perto, Jesus, foi Maria”, conclui padre Edson.
Lugar de Evangelização
O bispo de Vacaria Dom Irineu Gassen, ressalta que as romarias vão crescendo muito pelo momento histórico em que se vive a sociedade, porque não são somente lugares de devoção, onde vamos buscar bênçãos, curas, milagres. Para ele as romarias estão se tornando cada vez mais lugar de evangelização, um lugar onde cada romaria com seu título próprio e com seu específico tem uma mensagem importante para o povo de Deus, neste momento histórico. “Por isso se entende que as romarias estão crescendo tanto, porque o povo muitas vezes desprovido de outros recursos vai buscar esse recurso, mas da parte da igreja, nós incentivamos a romaria porque ela vai se tornar um lugar onde se pode anunciar o evangelho, onde se pode ter mais condições de transmitir a mensagem do Evangelho. Esse é o ponto mais importante de qualquer romaria que quer continuar e crescer, deve ser clara na mensagem do evangelho“, alerta.
Os peregrinos e a fé
Eliane, 27 anos, de Lagoa Vermelha, diz que vai a Romaria de Ibiaçá todos os anos desde pequena. “Ia junto com minha mãe e minhas irmãs. Minha mãe era muito devota e passou a nossa geração. Ela já é falecida, mas vou com a minha família, faça chuva ou sol. Ao chegar lá a sensação é que tudo compensou e que você terá um ano abençoado e acompanhado por Nossa Senhora. Todos os anos vou para pagar promessas por graças alcançadas. Espero passar essa fé ao meu filho e que essa fé na Mãe Consoladora se multiplique em minha família", espera.
Luci, 43 anos, de Lagoa Vermelha, diz que visita Nossa Senhora Consoladora desde criança com seus pais. “Gosto de ir na procissão luminosa. Quando tive desejo de ser mãe e esbarrei em uma dificuldade com problemas de saúde, recorri a Nossa Senhora Consoladora e fui atendida. Há três anos tive a notícia de que estava com câncer. Pedi saúde e a cura a nossa Santa, fui à romaria dias antes da cirurgia. Fiquei triste pois não conseguia completar o trajeto, pela dor. Implorei que ela me ajudasse e me guiasse na procissão, pois queria muito agradecer e pedir a benção. Então consegui completar a romaria. Fiz a cirurgia dias depois e hoje estou bem. A romaria faz parte de minha família", testemunha.
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