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Vereador caxiense chama de “exagerado e midiático” caso que resultou na liberdade de trabalhadores em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves

por Daniel Lucas Rodrigues

Fala foi realizada durante a sessão da Câmara Municipal de Caxias do Sul nesta terça-feira (28/02)

Foto: Bianca Prezzi/Câmara Caxias

O caso dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, foi pauta na sessão da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul nesta terça-feira (28/02). Durante 10 minutos, o vereador Sandro Fantinel (PATRIOTAS) abordou o tema ao falar sobre a falta de mão de obra para o trabalho no campo. Em sua fala inicial, o parlamentar colocou que os acontecimentos em Bento seriam “exagerados e midiáticos”.

Segundo ele, o espaço para sua declaração seria para “prestar solidariedade aos empresários e produtores rurais”, frente ao cenário de “dificuldades de se empreender, principalmente no setor da agricultura”. Ao dizer que estaria acompanhando o caso dos trabalhadores resgatados, Fantinel disse que há relatos e imagens do local que “notam um verdadeiro exagero”, sobretudo ao que diz respeito à cobertura da imprensa. Ele alega que o empresário é retratado “como vilão nesse país”, inclusive em novelas.

Para reafirmar sua visão, o vereador trouxe o que seria o relato de um ex-colaborador da empresa responsável pelas contratações dos funcionários resgatados, que teria atuado como supervisor dos trabalhos. De acordo com Fantinel, o ex-supervisor teria afirmado que percebeu alguns trabalhadores cansados e estressados. Alguns estariam de “ressaca por uma noite de bebedeira”.

— Aonde é que escravo sai de noite para ir em bodega para encher a cara. Em qual lugar do mundo que o escravo sai da onde ele trabalha, para ir na bodega encher a cara. Me diz, vem aqui alguém e me explique. Em qual lugar do mundo existe esse tipo de escravidão? Aí chamam de escravidão o cara que de noite sai, vai para a bodega, enche a cara e no outro dia está cansado. — disse Fantinel.

Durante seu discurso, o vereador disse que é contra “qualquer tipo de maus-tratos, a funcionários de qualquer área”, mas não concordaria quando “se usa da mentira e da hipocrisia”. Ele afirma que conhece diversos produtores rurais da Serra Gaúcha e de diversos alojamentos onde ficariam funcionários temporários. Sandro Fantinel diz que são locais “simples e humildes”, feitos para 60 dias. O que importaria, segundo o parlamentar, é que os quartos sejam limpos.

Críticas à cultura baiana

Ao final de sua fala, Fantinel dirigiu a palavra aos produtores e empresas para um conselho:

— Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar todos os argentinos, porque todos os agricultores que tem argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa e, no dia de ir embora, agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam. — afirma o parlamentar.

Fantinel ressalta que “em nenhum lugar do estado, na agricultura, houve problema com argentino ou com grupo de argentinos”. O parlamentar ainda criticou os baianos e sua cultura:

— Agora, com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Então, agora quero dizer que deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa, para vocês não se incomodarem novamente — diz Fantinel, em referência ao caso dos 207 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em que a maioria era do estado da Bahia.

Veja na íntegra a fala do vereador.

Vereador responde fala de Sandro Fantinel

Em questão de ordem, o vereador Lucas Caregnato (PT) ocupou o pequeno expediente para tecer críticas ao discurso de Sandro Fantinel. O parlamentar disse que ficou estupefato com a fala do vereador do Patriotas e chamou as palavras ditas por Fantinel como de “cunho xenofóbico, preconceituoso e discriminatório”

— Pesquisem sobre o PIB (Produto Interno Bruto) da Bahia, pesquisem sobre a história da Bahia, que foi a primeira capital da colônia, pesquisem sobre a produção econômica, sobre os cientistas formados na Bahia, o potencial turístico, a identidade, a cultura e a religiosidade do povo baiano. Parece que aqui há uma ideia de fazer papagaiada — afirma Caregnato.

Conforme o parlamentar, o Legislativo caxiense já foi ocupado por inúmeros políticos de renome nacional e que não necessitaria se deparar “com uma fala desse cunho”.

— Por isso não da minha solicitação sem citar o regimento, porque isso me parece tão óbvio, uma fala repugnante e que atenta contra o que é mais básico. As pessoas na Bahia não vão à praia para tocar tambor ou para fazer qualquer outra coisa. — afirma o vereador, em alusão à fala de Fantinel sobre a população baiana.

Segundo ele, não existe justificativa em 2023 para que um trabalhador sofra choque*.

*Caregnato refere-se aos relatos dos trabalhadores resgatados à RBS TV, em que dizem que sofriam espancamentos, choques elétricos, tiros de bala de borracha e ataques com spray de pimenta, para continuarem trabalhando para a empresa terceirizada, em Bento Gonçalves.

Confira a fala do vereador na íntegra

Fantinel se defende

Após a questão de ordem, Fantinel concordou com a retirada dos anais da Câmara de parte da fala em que realizou críticas à cultura baiana. Segundo o parlamentar, sua colocação sobre os baianos não significaria que tem “alguma coisa contra os baianos”.

 — Eu citei a Bahia, porque o processo pelo qual me trouxe aqui era relacionado aos baianos. Isso tem que ficar claro. Eu, pessoa Fantinel, não tenho nada contra os baianos. Mas a questão da minha fala aqui era relacionada ao processo em andamento que aconteceu em Bento Gonçalves, que era relacionada a funcionários da Bahia. Eu falei aqui dos nordestinos? — destaca Fantinel.

Fantinel também disse que não era para colocar “palavras na boca desse parlamentar, porque o bicho vai pegar”. Conforme ele, é necessário que tudo fique bem claro.

— Eu já retirei partes da minha fala dos anais, porque, muitas vezes aqui, no calor da emoção, a gente diz uma palavra ou outra que talvez não deveria. Concordo, somos humanos e cometemos erros. Agora, colocar palavras na minha boca, não nasceu homem que coloque. Isso tem que ficar muito claro. — afirma o vereador.

Confira a fala do vereador na íntegra.

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