Lula diz a Sérgio Moro que Palocci mentiu para conseguir benefícios da delação
Defesa de Lula orienta ex-presidente a ficar calado diante de algumas perguntas do juiz Sérgio Moro
O segundo depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro durou pouco mais de duas horas nesta quarta-feira, 13. A sabatina começou pouco depois das 14h e, ao contrário do que ocorreu no primeiro depoimento, que durou quase cinco horas, o ex-presidente deixou de responder várias perguntas do juiz e de procuradores responsáveis pela ação. Segundo o advogado de Lula, Cristiano Zanin, essa foi uma orientação da defesa.
O depoimento faz parte do processo que apura a possível compra, pela empreiteira Odebrecht, de um terreno em São Paulo para a sede do Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo do Campo, vizinho do apartamento onde vive o ex-presidente.
Os imóveis teriam sido destinados a Lula em troca de contratos com a Petrobras. Confira os detalhes.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, na Justiça Federal em Curitiba, que o ex-ministro da Fazenda de seu governo Antonio Palocci mentiu durante depoimento prestado à Justiça Federal. Lula disse a Moro que Palocci mentiu para conseguir os benefícios de uma delação premiada e que teria ficado com pena do ex-ministro.
Ao iniciar o depoimento, Lula disse que "apesar de entender que o processo é ilegítimo e injusto”, pretendia falar. “Talvez eu seja a pessoa que mais queira a verdade neste processo", afirmou.
"Eu vi o Palocci mentir aqui essa semana", disse Lula, acrescentando que viu atentamente o depoimento de seu ex-ministro, que classificou como “cinematográfico” e que parecia ter sido escrito por um roteirista de televisão.
“Você vai dizer tal coisa, os lides [no jornalismo, a primeira parte de uma notícia] são esses, preparam alguns lides para dizer e o Palocci, se não fosse um ser humano, ele seria um simulador. O Palocci é tão esperto que ele é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Ele é médico, é calculista, é frio. Nada é verdadeiro. A única coisa que tem verdade ali é ele dizer que está fazendo a delação porque ele quer os benefícios da delação ou quem sabe um pouco do dinheiro dele que vocês bloquearam”, disse Lula.
O ex-presidente responde processo pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, a empreiteira Odebrecht comprou um terreno para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a Odebrecht pagou R$ 12,4 milhões pelo terreno, mas a obra não foi executada. A empreiteira também teria comprado um apartamento vizinho ao que o ex-presidente mora, em São Bernardo do Campo (SP).
Depoimento de Palocci
Na semana passada, Palocci disse a Moro que Lula fez um "pacto de sangue" com Emílio Odebrecht, fundador da construtora, e que "o pacote de propinas" envolveria um fundo de R$ 300 milhões para "atividades políticas" do ex-presidente.
“Eu fiquei vendo o Palocci falar. Ele inventou uma frase: “pacto de sangue com Emílio Odebecht”. Mas ele é quem fez um pacto de sangue com os delatores, com os advogados dele e talvez com o Ministério Público, porque ele disse exatamente o que o power point [referência a entrevista coletiva de procuradores da Lava Jato em que foi exibida uma apresentação em power point apontando o ex-presidente como "comandante máximo" do esquema do petrolão] queria que ele dissesse”, disse Lula a Moro.
O depoimento do ex-presidente durou cerca de duas horas e dez minutos. Lula chegou ao prédio da Justiça Federal por volta das 13h50.
Além de Lula e Palocci, também é réu no processo o assessor do ex-ministro Branislav Kontic, que foi interrogado logo depois de Lula. Também são réus o dono da empresa DAG Construtora Demerval de Souza Gusmão Filho; o primo do pecuarista José Carlos Bumlai, Glaucos da Costamarques; o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht; o advogado Roberto Teixeira e Paulo Ricardo Baqueiro de Melo, que seria ligado à Odebrecht.
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