Dia a dia do colono: a história de Nadil Lidoni e sua produção de uvas em Caxias do Sul
Baixar ÁudioEste é o último episódio da série de reportagens especiais do Dia do Colono e Motorista. Vindo da região de Campos de Cima da Serra, Nadil está em Caxias do Sul desde 1979. Conheça sua trajetória
(Para experiência completa, ouça a reportagem especial no “Ouvir Notícia”, disponível abaixo do título da matéria).
Campo dos Bugres é o passado de Caxias do Sul. A denominação foi dada pelo desbravador Antônio Machado de Souza, para identificar o território. Foi o primeiro nome do município. O local era um caminho entre a cidade de Montenegro e os Campos de Cima da Serra, por onde passavam os tropeiros, e que foi ocupado pelos indígenas, na época, chamados de bugres. Em 1875, a chegada de imigrantes italianos, em busca de uma vida melhor, mudou o lugar. Uma nova cultura emergiu, transformando a cidade e a região para sempre. Dessa história nasceu o casal Nadil Lidoni, de 63 anos, e Maria Teresinha Lidoni, de 70 anos. Venha conhecer a história deles.
A gente volta no ano de 1958 para a cidade de Ipê, no distrito de Vila Segredo. Foi neste lugar que Nadil cresceu, junto com os irmãos, a mãe falecida, Aurora Piassão Lidoni, e o pai, Belmiro Lidoni, ainda vivo e no auge de seus 90 anos. A infância foi dividida entre estudar e ajudar os pais na propriedade rural. Antes de ir à escola, já acordava junto com o sol e “ia carpir embaixo das parreiras”, como ele mesmo fala. A família vivia da uva, mas tinha outras culturas para complementação. Arroz, trigo e milho foram alguns dos alimentos que cultivavam para consumo. A pecuária, com a criação de gado, vinha nesse pacote. O que sobrava era vendido para ajudar no sustento. Nadil relata como era o dia a dia.
Aos 17 anos viu no seminário diocesano, localizado em Vacaria, perto de Ipê, a oportunidade de ser padre. Ficou até os 20 anos de idade. Durante o tempo que passou lá, ajudou a cuidar da horta, na parte de plantio e colheita dos alimentos. Outro grupo ficava com a lavoura e o gado. Depois de três anos, preferiu deixar o local e foi, neste momento, que Caxias do Sul entrou no seu caminho. Ele foi visitar a irmã em Flores da Cunha e voltou para Vila Segredo, a fim de auxiliar o pai no campo. Chegando ao distrito, havia um homem que procurava por pessoas para ajudar na safra da uva, entre os meses de janeiro e março. Dava um bom retorno financeiro. Como Nadil tinha prática com as videiras, aceitou o trabalho. Em 1979 rumou para Caxias. A propriedade rural ficava na comunidade de Travessão Porto, no bairro Ana Rech. Nadil lembra que chegou à cidade no dia 21 de janeiro para trabalhar na colheita da uva. Era para permanecer na cidade até março, quando acaba a vindima. Só que a filha do dono da chácara o chamou a atenção. O nome dela? Maria Teresinha. Na época, ela tinha 28 anos e Nadil estava com 21. Parece clichê, mas foi amor à primeira vista. No mês de dezembro do mesmo ano os dois se casaram e Nadil se mudou definitivamente para Caxias. Ele conta como foi essa história.
Casados, eles dividiam a propriedade com o pai e a mãe de Maria Teresinha. Em 1991, com o falecimento dos dois, Nadil e Maria herdaram o lugar em Ana Rech. Nesse meio tempo, eles tiveram as duas filhas: a Rita e a Isabel Lidoni. A última é a mais velha, com 40 anos, que mora com eles, e os ajuda nos afazeres da propriedade rural. A mais nova é só por um ano de diferença, ela mora em Vila Segredo, cuidando do avô. A uva é o principal meio de renda da família, mas possuem alguns animais para criação. Nadil conta que cuidar das galinhas não é só um trabalho, é um passatempo.
Durante o ano inteiro, a família trabalha em volta do plantio e da colheita das uvas. Nesta época, eles focam nos cuidados dos parreirais, para que no início do ano seguinte venha uma safra boa. São variadas as responsabilidades que a família Lidoni tem para o desenvolvimento da videira. Por exemplo, eles precisam tutorar a fruta, usando uma espécie de madeira ou sarrafo para posicionar os ramos, cuidar do solo, trabalhar na irrigação do terreno e preparar as covas. Nadil recebe a ajuda da filha e do vizinho. Na temporada de colheita, há a contratação de alguns funcionários para reforçar a equipe. Ele relata como é a rotina.
Toda a produção da família é destinada para vinícolas de Flores da Cunha, mais voltadas para a parte do vinho. Quando não há fenômenos naturais que prejudicam a safra, como geadas, há um aumento no número de uvas coletadas. Essa adição é destinada para os comerciantes, que compram direto com Nadil. Mas a estiagem também faz parte do cotidiano dele e de muitas famílias da Serra Gaúcha. A falta ou a irregularidade de chuvas prejudica o plantio. Ele conta que não possui sistema de irrigação pra molhar as parreiras em períodos de seca. Há um trator com reservatório de água que faz esse trabalho.
Além do campo, Nadil consegue tirar algum tempo para o lazer. Aos domingos, ele vai à missa, junto com a esposa, e participa de um coral na comunidade de Ana Rech. Para complementar, ele também faz parte de um grupo de dança italiana, que se apresenta na localidade para espalhar a cultura caxiense. Nessas duas últimas atividades, Maria Teresinha não vai. Segundo Nadil, ela tem muita vergonha e prefere ficar em casa. Por essas e outras que ele enfatiza que a “colônia é a sua vida”.
Este foi o último episódio da série de Reportagens Especiais do Dia do Colono e do Motorista aqui na São Francisco, que tem o patrocínio de Tratorpeças Mário – Revendedor Case, Tratores e Implementos – localizado na RST 453, Rota do Sol, KM 150, nº 21859 – contato pelo fone 9 9992-0055.
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