Maeth Boff: as memórias do exílio
Ex-seminarista e ex-guerrilheiro contra a Ditadura Militar, Maeth Domingos Boff foi o entrevistado do programa Conectado Perfil da Tua Rádio São Francisco, na manhã do último sábado (13)
O ex-seminarista e ex-guerrilheiro contra a Ditadura Militar, Maeth Domingos Boff foi o entrevistado do programa Conectado Perfil da Tua Rádio São Francisco, na manhã do último sábado (13).
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Maeth Boff nasceu em 18 de outubro de 1945, na Capela de São Ciro, atual Bairro São Ciro, em Caxias do Sul. Filho dos agricultores Victorio Boff e Lúcia Tonella Boff, teve outros sete irmãos. “A infância foi de colônia da Idade Média, mais ou menos. Naquela época, vivíamos em um espírito medieval. Nós íamos para a Capela de São Ciro. Meu bisavô foi um dos fundadores da capela. O ambiente era todo medieval. Todos os dias rezávamos o terço”, conta.
Após a mudança da família para o Bairro Cruzeiro, o pai tornou-se sócio da Ferragem Franzoi e Maeth estudou na escola Madre Imilda e, aos dez anos, ingressou no Seminário dos Capuchinhos, em Vila Flores, onde permaneceu até os vinte e um anos. Nesse local, cursou o Primário, o Ginásio, o Científico e o Clássico. “Como não podia ir para a polícia , nem para a política, eu provavelmente achei que havia um futuro na igreja, que era outra autoridade muito presente naquela época”. Após o período em Vila Flores, Maeth passou também pelas cidades de Veranópolis, Ipê, Garibaldi, Marau e Ijuí.
Em Marau, realizou a preparação para a universidade e o fim do Clássico. Nessa cidade, atuou na União Marauense de Estudantes Secundários (UMES). Iniciou os estudos em Filosofia na Universidade de Ijuí (UNIJUI), porém graduou-se na Universidade de Caxias do Sul (UCS), após retornar para a cidade natal. “Eu saí do seminário logo depois, porque eu me sentia tremendamente protegido de tudo, e deveria falar com o povo que sofria. Eu entendia cada vez menos o que era ser um perseguido”, conta.
Movimentos sociais, exílio e tortura
Maeth Boff participou da resistência e da luta contra a ditadura militar no Brasil. “No centro acadêmico da universidade eu encontrei companheiros que também discutiam fazer alguma coisa contra esse regime que se tornava cada vez mais severo”. Maeth ingressou na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares). “Num dado momento eu percebi que não haveria saída pela luta armada. As condições não estavam dadas no começo da luta armada e nem progrediam. O povo não reagiu, a imprensa continuava dominando, e nos chamávamos de subversivos ou terroristas. Toda a pretensão que nós tínhamos de transformar a sociedade era completamente ignorada e nós ficamos sem bandeira”.
Maeth decide então ir para o Chile. Em setembro de 1973 ocorre o golpe militar no país, que derrubou o presidente Salvador Allende. O caxiense foi perseguido e torturado. “Fui preso no dia 20 de setembro. Fui interrogado e ameaçado de morte. Situações horríveis de fome, sede e sujeito no barco que servia de prisão pra nós (Navio Lebú). Outra vez foi o barco Esmeralda, que era o barco escola da Marinha chilena. Lá teve uma tortura. Eu fui torturado muito seriamente na antiga escola da Marinha, num prédio de madeira de três andares, que acho que foi até destruído. Fui torturado das oito horas da manhã até as duas da madrugada do dia seguinte. Foi principalmente choques elétricos, tapas e socos”, lembra.
Maeth conseguiu exílio na Holanda. No país realizou um curso de agronomia na Escola Superior de Deventer. O caxiense constituiu família na Europa, tendo duas filhas e dois netos holandeses, que ainda vivem na Holanda. Em Caxias, teve mais uma filha. Maeth também é poliglota, sendo fluente em italiano, inglês, francês e holandês.
Ainda na Holanda, foi contratado pela North Atlantic Cooperation para trabalhar no aprimoramento da agricultura familiar em Moçambique (África), após a independência de Portugal.
De volta ao Brasil, atuou no governo municipal de Caxias do Sul na gestão de Pepe Vargas, no Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SAMAE), durante o período de 1997 a 1999.
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