Em tempos de pandemia, equipes de UTI humanizam atendimento para pacientes enfrentarem a Covid-19
Nesta reportagem especial, você confere o trabalho de acolhimento do Hospital Unimed de Caxias do Sul para internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTIs)
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Quando estamos falando de Unidade de Terapia Intensiva, a gente imagina um lugar com pacientes com alguma doença grave, em seu momento de maior fragilidade. Não conseguimos pensar em um local de acolhimento, visto que as pessoas estão lá em seus piores momentos. Com a chegada da Covid-19, nos acostumamos a ver nas redes sociais vídeos com pessoas que estavam acamadas em leitos de UTI e superaram o coronavírus. Elas foram recebidas pela equipe médica que as atenderam durante os dias de internação e tiveram uma recepção calorosa para marcar a data de saída da unidade. Essa é uma das ações da chamada UTI humanizada, caracterizada pelo elo entre médico e paciente.
Em Caxias do Sul, as casas de saúde se empenharam na iniciativa com a pandemia. Um desses exemplos é o Hospital Unimed. Em 2020, o aumento de hospitalizações fez com o que a instituição pensasse em uma forma de homenagear as pessoas em estado crítico que venceram a doença. Foi planejado fazer um corredor com os profissionais da saúde e familiares, carregando placas com palavras positivas, como “você venceu” ou “você vai ficar bem”. Além disso, foi pensado realizar visitas virtuais para o paciente, por meio de grupo de WhatsApp criado com a família. O alicerce para essas ideias foi o Dia do Desejo, realizado pelas equipes de UTI. A coordenadora de enfermagem das unidades de internação e UTIs Adulto da Unimed, Marice Boeira, explica o que é o projeto. “Temos um trabalho de humanização na instituição há vários anos. A gente faz com os pacientes o Dia do Desejo. Pegamos pacientes que estão internados há bastante tempo e realizamos um desejo que eles querem muito. A família nos ajuda bastante nessa parte. O pedido vai desde alimentação até ver um familiar que mora longe.”.
A pandemia também mudou o jeito de comunicação entre equipe e família. A ligação parental é vista como essencial para a continuidade do tratamento de pessoas em UTI. Muitos ficam 15 ou 30 dias internados e as visitas eram uma das fontes de fortaleza emocional para os pacientes. O uso de tecnologias precisou ser implantando no dia a dia do hospital. Os profissionais necessitaram de um período de adaptação até se acostumar à nova realidade. Marice conta o trabalho feito pelos médicos para preparar uma visita virtual e os reflexos na equipe. “Preparamos a equipe pra esse atendimento com a família e o paciente. A psicóloga liga para os familiares para saberem como verão a pessoa internada. E na equipe, trabalhamos o modo de atendimento, porque essa parte psicológica é complicada. Daí é feita a videochamada com a família e se mostra o paciente, mesmo ele estando sedado fazemos esse momento, até porque senão não há esse encontro nunca.”.
Os benefícios
Uma das pessoas acolhidas pela UTI humanizada foi o arquiteto Maximiliano Feldens Magnani, de 31 anos. Ele contraiu a Covid-19 em 2020 e foi internado no Hospital Pompéia no mês de julho. Passou 15 dias na UTI. Destes, oito ficou intubado, devido à perda de 85% da capacidade pulmonar. Nove meses depois de recuperado, ele ainda está com sequelas da doença, como fadiga e dor no corpo. No tempo que passou hospitalizado, ele conta que os médicos foram seu apoio. “Lá dentro, eles (médicos) são nosso apoio, quem faz a gente ter força para lutar contra a doença, porque ela nos tira isso e precisamos de alguém que nos encoraje. O profissional é a pessoa mais próxima, mesmo eles expostos com a Covid-19, conseguem de alguma forma estar presente, com muito carinho, conversa e diálogo. Ficamos sensíveis, a ponto de olhar para a pessoa e começar a chorar. Teve uma enfermeira, que entrou para me servir o almoço, que olhei para ela e comecei a chorar e tive muito apoio dela. Aí fiquei com mais vontade de lutar contra o que eu tinha.”.
Magnani fala sobre como tinha contato com sua família. O pai e a mãe foram o amparo para passar por essa fase da doença. “Tinha a psicóloga que entrava em contato via telefone, pedindo como eu estava, o que eu sentia e se eu queria mandar alguma informação para meus familiares. Lá dentro a gente não tem contato, não sabe se é dia ou noite ou se a família sabe como eu estou. Só depois de sair que a gente tem a dimensão do que aconteceu. A minha mãe e meu pai eram com quem falava direto.”
E uma das justificativas de humanizar a UTI é diminuir essa visão de ambiente mórbido. É uma maneira de mostrar que a vida não acaba ali e tirar essa visão mecânica que muitos possuem sobre o relacionamento entre médico e internado. Ou seja, o paciente não ser só mais um a ser tratado. A psicóloga hospitalar do grupo Unimed, Valderi Guarnieri, afirma que a humanização é um processo de integrar o lado empático ao científico, o que é uma mudança de padrão. E ela reafirma o papel da família para o funcionamento dessa ideia. “A ideia é passar de uma visão mais mecanicista, que foca na parte tecnológica e científica da situação, para um olhar mais voltado para o paciente como ser humano, e pensar ele dessa forma. É uma maneira de olhar diferente, uma mudança de paradigma. A gente percebeu que a família conversa com o paciente, mesmo sedado, faz oração, podendo dizer o que está no coração dela. Isso as traz para dentro do tratamento. Elas estão conosco, é como se a família fosse parte da equipe.”.
Não são apenas os pacientes que ganham com a iniciativa. A equipe médica também. Ao ver a recuperação de uma pessoa é como se houvesse um renascimento para eles. É o que dá forças para que continuem nessa batalha diária contra a Covid-19. Essas palavras foram reafirmadas por Valderi. “A gente brinca que, quando vemos um paciente melhorando, é como se tomássemos um fôlego e, graças a Deus, muitos melhoram. Os médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas ficam muito felizes e cada paciente vai pra casa e nos manda fotos juntos com a família, além de mensagens de agradecimento. Tudo isso dá forças para continuar, ir todos os dias ao trabalho, mesmo sabendo da realidade difícil. É em busca desses momentos, isso no que acreditamos, porque aquele doente grave pode se tornar uma história de superação. Eu diria que é como se fosse um renascimento, cada processo de alta é um pequeno renascimento pra quem está na linha de frente.”.
Essa foi a reportagem especial sobre as UTIs humanizadas, que contou o trabalho dos hospitais de Caxias do Sul para que os pacientes enfrentem a Covid-19.
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