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Isoldi Chies: plantar o bem, cultivar o espírito e colher a felicidade

por Pablo Ribeiro

Fundadora da RIM VIVER, dona Isoldi Chies foi a entrevistada do programa Conectado Perfil, na manhã deste sábado

Foto: Pablo Ribeiro/Tua Rádio São Francisco
Foto: Divulgação

Uma mulher de força. É assim que podemos definir dona Isoldi Elisabetha Chies. Há 80 anos, nascia aquela que hoje é considerada a “mãe dos renais crônicos do Brasil”. Fundadora da RIM VIVER (Associação dos Renais Crônicos de Caxias do Sul), Isoldi dedica sua vida na luta por pessoas acometidas por problemas renais. Uma luta incansável, que rendeu frutos nos quatro cantos do país. Ela contou suas histórias de vida no programa Conectado Perfil da Tua Rádio São Francisco, na manhã deste sábado, dia 6.

Ouça o programa completo:  PARTE 1  |  PARTE 2  |  PARTE 3

Dona Isoldi nasceu em 22 de junho de 1939, no município de São Pedro da Serra. É a filha primogênita de Pedro e Frida Chies. Ela teve mais quatro irmãos. “Cresci no interior e, na época, para ir para escola, em dias como hoje (frio), a gente ia de tamanco mesmo, e muitas vezes quebrava a geada. Como eu era de família de interior e a filha mais velha, não era fácil”, conta.

Ainda jovem, Isoldi foi para o internato em Gravataí. “As irmãs passaram para recolher as pessoas que quisessem ir para o colégio de irmãs religiosas. Eu me candidatei porque era uma oportunidade de melhorar a vida e estudar mais. Em Gravataí fiz o 1º e 2º ano ginasial”. Após, em Nova Bréssia, dona Isoldi se formou professora primária, em 1959, exercendo o magistério no ano seguinte. “Os alunos tinham dificuldade em fazer divisão de matemática. Isso me motivou a querer ser professora. Eu tinha facilidade em transmitir os conhecimentos em matemática, tanto que, na UCS fiz a faculdade de Matemática”.

Isoldi veio para Caxias do Sul após o casamento. Na cidade, lecionou nos bairros São Caetano, São Ciro e Cinquentenário, onde se aposentou na Escola Dante Marcucci.

O trabalho voluntário e a RIM VIVER

Foi em 1978 que dona Isoldi iniciou o trabalho voluntário, orientada pela Escola de Pais do Brasil. “Isso é uma motivação de vida. Eu ajudava meus colegas nas tardes das minhas folgas, na Língua Portuguesa, pois a maioria falava alemão. Desde o tempo do internato, isso foi uma motivação para mim”, conta.

Em 1989, integrou-se a um grupo de voluntários em Caxias do Sul que iniciaram palestras e esclarecimentos sobre Doação de Órgãos em escolas, universidades e cursos de enfermagem. Ainda hoje atua intensamente nesta área.

Em 1993, dona Isoldi criou a RIM VIVER. Ela foi motivada pela filha Juliana, que era renal crônica e faleceu devido ao problema. Isoldi não mediu esforços e dedicou grande parte do seu tempo em busca de condições dignas para o tratamento renal. Auxiliada por um grupo de pessoas, criou a Associação dos Renais Crônicos da Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, o embrião da RIM VIVER. “Na época, não existia em nenhum estado brasileiro a Central de Transplantes, que hoje todos os estados têm. O transplante era muito raro. Tudo era muito difícil. Então, começamos a nos reunir na minha casa pra ver no que a gente podia melhorar nesse sentido. Vinha gente de várias cidades pra fazer hemodiálise em Caxias, e os sábados à tarde nós dedicávamos para os encontros para planejarmos alguma melhoria para os renais crônicos”. Dona Isoldi abriu as portas de sua própria casa para o estabelecimento da sede da entidade.

Isoldi foi presidente da RIM VIVER durante muitos anos. Foram muitos os desafios enfrentados por ela. “Foi muito difícil. A RIM VIVER participou, depois, de um projeto nacional pelos estudantes de Administração da UCS, o que nos possibilitou alugar um espaço para ampliar esse trabalho. Graças a esse início, com alunos da UCS ajudando, que nós conseguimos implantar e servir de modelo para o Brasil”. A RIM VIVER prevê a ressocialização do renal crônico.  A associação presta apoio e é um referencial para pacientes e familiares.

A dedicação e doação de dona Isoldi rendeu muitos frutos pelo Brasil. “Praticamente, tem só três estados brasileiros que eu não visitei, criando associações e motivando os renais crônicos a ter mais condições de vida”.

Apesar de todas as dificuldades da vida, dona Isoldi acredita na felicidade. O maior exemplo, segundo ela, é o do atual presidente da RIM VIVER, Evandro Neckel. “Quem se torna renal crônico acha que é o fim da vida. Isso acontece muito pra quem começa a fazer hemodiálise, não só o paciente, mas a família toda. O Evandro, em consequência do tratamento, amputou uma perna, e continua firme, trabalhando e dizendo que dá pra ser feliz”.

Doações de órgãos

Dona Isoldi compartilha e se emociona com uma história, que é um verdadeiro ato de amor. A filha Juliana faleceu há 21 anos. Desde muito jovem ela sofreu enfrentando a doença renal. Apesar disso, ela sempre acompanhou a mãe nas palestras que dona ISoldi ministrava sobre a doação de órgãos. “Na época era muito difícil um transplante, há 30 anos, mas ela ainda vibrava com essa ideia, e eu ainda pude doar as córneas dela”, lembra. Porém, não foi uma tarefa fácil. “É um ato muito difícil. Eu pensei “Como eu vou pra uma palestra e dizer: doe órgãos, se eu, numa hora dessas desistisse”.

Três anos após a doação das córneas, dona Isoldi teve uma surpresa.  “Em uma tarde, eu estava sentada em frente à minha casa com duas amigas, quando parou um carro e um casal desceu. A mulher me abraçou e me disse que, graças ao meu gesto, ela enxerga os três filhos que nunca havia enxergado. Então, a vida da minha filha, que foi muito sacrificada valeu a pena. Doar órgãos é um ato de extremo amor”.

Uma octogenária incansável

Quem pensa que, aos 80 anos, dona Isoldi pensa em parar, se engana. A luta dela continua. Recentemente, comemorou a data rodeada de familiares e amigos. Ela tem mais dois filhos, Paula e Aurélio, e os netos Marco, Sofia, Túlio, Pedro e Caio, além de dois bisnetos Natanael e Micael. Também tem um neto de coração, chamado Éverton. A maioria dos familiares de dona Isoldi moram na Bahia. “O que vale na vida é ter amigos. Sozinhos, nós não fazemos nada. Precisamos de amigos pra mudar alguma coisa nesse mundo”.

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