Tecnologia muda práticas médicas
Drones que prestam primeiros socorros e impressão de órgãos estão entre as novas tendências
Foto: Divulgação
Games, acessórios eletrônicos, aplicativos para smartphones que facilitam o dia a dia, drones. Essas e outras ferramentas já fazem parte da rotina de boa parte dos brasileiros. A novidade está no uso dessas tecnologias pela medicina. A partir da percepção de mais de 160 especialistas e referências mundiais dos segmentos de tecnologia e saúde, a Live Healthcare – empresa voltada a fomentar a sustentabilidade e o crescimento do setor de saúde – aponta tendências tecnológicas em saúde, detalhadas pelo médico Vitor Asseituno, CEO (diretor-executivo) da companhia.
1) Dispositivos menores - Os “wearable devices”, dispositivos tecnológicos que podem ser acoplados ao corpo para diversas finalidades, são vendidos em formato de relógio, pulseira, colar, cinto e até brinco. Permitem aferir pressão arterial, temperatura do corpo, qualidade do sono etc. A tendência são dispositivos cada vez menores, mais confortáveis e com otimização do consumo de energia.
2) Drones – Os drones já são estudados para prestação de primeiros socorros. Na Espanha, os equipamentos são testados em salvamento de banhistas, lançando boias ao mar.
3) Games - Com apelo lúdico e interativo, os games ajudam a aumentar o engajamento de pacientes em programas de saúde, desde a prevenção até o tratamento.
4) Impressão 3D - Hoje, já é possível protótipos de produtos, a baixos custos, por meio da impressão 3D. Vitor Asseituno explica que, na medicina, essa tecnologia permite a reprodução de artigos ortopédicos, moldes de órgãos, esqueletos, instrumentos cirúrgicos, entre outros, contribuindo para a melhoria de procedimentos médicos em locais com poucos recursos. Especialistas já trabalham com a perspectiva da impressão de órgãos inteiros, o que contribuirá para agilizar os processos de transplantes e reduzir a incompatibilidade entre o doador e o receptor.
5) Telemedicina - Comumente associada à prática de consulta por vídeo com um médico à distância, o recurso tem potencial maior. No futuro, acredita-se que apenas pacientes que necessitem de cuidados intensivos sejam internados nos hospitais. Nos demais casos, os pacientes poderão se beneficiar do monitoramento e cuidados remotos permitidos pela telemedicina em sua própria casa.
6) Realidade virtual e aumentada - Popular no mundo dos games, a recriação de ambientes que simulam a realidade, possibilita, por exemplo, ajudar estudantes e profissionais a praticar procedimentos, de maneira segura e controlada. Além disso, contribui para o tratamento de controle de fobias e reabilitação física, por exemplo.
7) Smartphones - No âmbito da saúde, funcionalidades que permitem o registro, cálculo e monitoramento de dados para o controle de doenças, até sensores para monitoramento cardíaco, estão em desenvolvimento.
Alto custo é uma barreira
O médico Vitor Asseituno admite que o custo de tais recursos é, de fato, uma barreira. Segundo ele, como toda tecnologia, o barateamento se dá com o tempo, a partir da produção em maior escala. “Naturalmente, os grandes hospitais vão adotar as novas tecnologias primeiro; os outros, mais lentamente. Algumas vão entrar no Sistema Único de Saúde (SUS), outras certamente não; como já ocorre hoje com outros recursos médicos disponíveis”, afirma. “As que forem muito caras para o SUS, ainda podem abrir caminho para que opções locais, boas e mais baratas, sejam desenvolvidas e substituam as importadas”, completa.
Entrevista: recursos impactam a relação médico-paciente
Correio Riograndense - O uso de dispositivos móveis com aplicativos relacionados à saúde, ou de acessórios que medem, por exemplo, a frequência cardíaca, é confiável? Como melhor se beneficiar desses recursos?
Vitor Asseituno - A melhor maneira de se beneficiar da tecnologia é com o apoio de um médico para ajudar o paciente a guiar-se por esse novo ambiente. Assim como sempre surgem "terapias alternativas" que prometem resultados miraculosos, não podemos deixar que a tecnologia nos guie, e sim o conhecimento e a experiência médica. Algumas dessas tecnologias encontrarão o que chamamos de killer applications, ou seja, usos realmente bons, e outras entrarão e sairão de moda, e serão esquecidas.
CR - Quais cuidados o paciente deve tomar ao buscar informações médicas na internet? Como identificar informações de qualidade?
Asseituno - O importante ao ler qualquer informação é checar a fonte. Há muito conteúdo na internet que não informa quem o referendou. Ter um médico, hospital, sociedade médica validando a informação é essencial.
CR - Como as novas tecnologias contribuem para o “empoderamento” dos pacientes, com informações de qualidade?
Asseituno - Com mais informação, o tempo de consulta pode ser utilizado com dúvidas mais específicas do que aquelas informações que encontramos na internet (de fontes confiáveis). Por exemplo, em vez de explicar para o paciente o que é diabetes, se ele buscar essa informação na internet, o médico pode focar a consulta em dicas práticas de como cuidar da doença. Ao mesmo tempo, o paciente atualizado cobra que o médico também esteja atualizado para ajudá-lo a interpretar as informações de saúde que encontra na rede. O paciente que gasta mais tempo lendo sobre saúde e discutindo saúde, também vai gastar mais tempo cuidando da própria saúde e ensinando outros.
CR - Como é a “nova” consulta médica com o apoio da tecnologia?
Asseituno - Um médico americano chamado Daniel Kraft, disse há alguns anos que os médicos do futuro prescreveriam aplicativos. Eu não prescrevo aplicativos numa receita médica normal, mas já prescrevo em outro papel, ou mesmo ajudando o paciente a baixar o aplicativo. Vemos o médico por 15 minutos a cada seis meses, às vezes nem isso. O celular está o tempo todo conosco. A nova consulta é aquela em que o médico usa dessa tecnologia para melhorar o acompanhamento e consequentemente os resultados dos pacientes.
CR - Qual o papel dos médicos nesse novo cenário?
Asseituno - Liderar as mudanças, ensinando os pacientes sobre as boas tecnologias e os usos corretos, sempre lembrando que nenhum aplicativo, robô ou qualquer outra tecnologia deve substituir as consultas a um médico, mas apoiar os tratamentos em andamento. Nenhuma tecnologia também substituirá um abraço carinhoso em um momento de dor.
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