O reconhecimento de avanços ao longo dos últimos anos, mas a convicção de que ainda há muito a ser feito para colocar fim ao preconceito racial, pautaram as manifestações na sessão solene da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul desta quinta-feira, 17, para a entrega da Comenda "Medalha Zumbi dos Palmares". Elvino de Oliveira Santos, Everton Junior da Silva Costa e Vera Luci Pereira de Azevedo foram os agraciados com a honraria em 2016.

Conduzida pelo presidente do Legislativo, Edi Carlos Pereira de Souza/PSB, a sessão teve as presenças dos parlamentares Edson da Rosa/PMDB, Denise Pessôa/PT e Rafael Bueno/PDT; de representantes dos deputados federais Gilberto Pepe Vargas/PT e de Mauro Pereira/PMDB; da coordenadora do Conselho Municipal do Movimento Negro (Comune), Geneci Silveira, e do titular da Coordenadoria da Igualdade Racial, Diógenes Brazil, representando o prefeito Alceu Barbosa Velho. Houve apresentações da dupla sertaneja Zé Henrique e Daniel, do MC Di Dogg e do grupo Sambathio.

O vereador Edson da Rosa destacou que os homenageados são abnegados no trabalho contra o preconceito racional e pela adoção de políticas públicas em defesa dos negros. Segundo o peemedebista, o preconceito existe, embora a maioria das pessoas não admita.

Vera Luci se disse lisonjeada com a honraria e defendeu, além da busca da igualdade racial, a inserção social, lembrando seu trabalho com crianças portadoras de necessidades especiais. Destacou que no passado os livros sempre mostravam os negros como escravos e submissos, situação que foi mudando ao longo dos anos em razão de uma luta árdua de setores da sociedade. Reconheceu os avanços, mas assegurou que ainda há muito a ser conquistado.

Elvino Santos assinalou que o momento era de celebração e agradecimento pelo reconhecimento ao trabalho realizado. Reforçou que políticas adotadas nos últimos anos, em especial nos governos do PT no âmbito nacional, reduziram as desigualdades sociais. Mas alertou que a herança do trabalho escravo no passado ainda é muito presente nos dias atuais.

Everton Junior da Silva Costa, conhecido por Tom Costa, expôs dados que comprovam o forte preconceito ainda existente. Um deles é que, em 2013, do total de homicídios registrados no Brasil, em 71% as vítimas eram negros. Também comentou estudo do IBGE de 2012, que identificou brutal diferença na presença de jovens brancos e negros, com idades de 18 a 24 anos, nas escolas. Dentre os primeiros a participação era de 65,7%; entre os negros, 35%.

Para Tom Costa, uma das principais alternativas para mudar este quadro é o estímulo ao empreendedorismo. Acredita que esta é uma forma efetiva de o negro se liberar. “Somos livres das correntes, mas nossa mente continua presa”, frisou. Para ele, a educação financeira pode ajudar o negro a ser livre e dono de grandes negócios.

A representante do Comune, Geneci Silveira, defendeu parcerias dos movimentos negros com os poderes constituídos para fortalecer o combate ao preconceito. Já Diógenes Brazil anunciou que a coordenadoria trabalha na elaboração de projeto que visa à busca de recursos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a qualificação da população negra de Caxias do Sul, o que permitirá a prática mais efetiva do empreendedorismo.

Perfil dos homenageados

Elvino de Oliveira Santos

Natural de Cazuza Ferreira (São Francisco de Paula/RS), Elvino veio para Caxias do Sul ainda adolescente, juntamente com a família. Presidiu o Grêmio Estudantil da Escola Abramo Randon e foi tesoureiro da União Caxiense dos Estudantes Secundaristas (UCES). Em 2005, assumiu como diretor do Departamento de Arte e Cultura Popular da Secretaria Municipal da Cultura, onde criou diversos projetos ligados aos bairros da cidade. É diretor de Carnaval da Assencar (associação que representa os órgãos carnavalescos de Caxias e da região Nordeste do RS). Entre outras atividades que desempenha, é músico, produtor cultural e diretor do Ponto de Cultura da UAB Cultural.

Everton Junior da Silva Costa (Tom Costa)

Analista e desenvolvedor de sistemas formado pela UniFtec, é um dos fundadores da Startup Booking Hair. Autor e desenvolvedor do projeto Aplicativo Mestre, a rede social da Capoeira. De 2008 a 2012, foi membro do Conselho Municipal de Cultura e diretor de Cultura responsável pelo projeto do Ponto de Cultura UAB Cultural, em Caxias do Sul.

Vera Luci Pereira de Azevedo

Com formação em Pedagogia, foi funcionária estadual no Ensino Especial. Atuou como coordenadora pedagógica nas Apaes de Caxias do Sul e de Carlos Barbosa, onde também exerceu a função de vice-diretora. Entre outros espaços em que trabalhou, foi docente da classe terapêutica da Escola Especial João Prataviera. Sua família sempre esteve ligada ao carnaval caxiense. Atualmente, Vera está aposentada, mas segue atuando nos movimentos sociais e como voluntária na Clínica Paulo Guedes.