Arroz cultivado no RS usa água azul
Experimentos tentam diminuir utilização de água na plantação
Experimentos buscam diminuir a utilização de água na irrigação e manter a produtividade do arroz. A redução pode chegar a 30% em estados como o Rio Grande do Sul, que é o principal produtor do grão no Brasil. Esse decréscimo significa economia da água azul, recurso para irrigação oriundo de represas, lagos e rios e que é um dos fatores que compõem o cálculo da pegada hídrica do produto.
Segundo dados de pesquisa, no Rio Grande do Sul, são aplicados 1,2 mil litros da água azul para cada quilo de arroz produzido. Essa quantidade, embora represente a metade do valor da pegada hídrica, pode ser reduzida para 840 litros, combinando diferentes manejos e técnicas de irrigação, que favorecem ainda mais a sustentabilidade ambiental. A outra metade da pegada hídrica do arroz vem da indústria do beneficiamento do grão.
Hoje o método de irrigação predominante para a cultura do arroz é a inundação contínua, que é a mais utilizada no Rio Grande do Sul e é a que, geralmente, propicia maior produtividade. Entretanto, estudos têm mostrado que é possível aumentar a eficiência no uso da água com a adoção da inundação intermitente.
Conforme o pesquisador da Embrapa Luís Fernando Stone, a irrigação intermitente pode ser empregada, por exemplo, na fase vegetativa de cultivo e, após esse período, iniciar a inundação contínua, já na fase reprodutiva, a partir da floração. Estudos no Rio Grande do Sul evidenciam que esse manejo não acarreta perdas nos índices de produtividade, que é de 7,8 mil quilos por hectare.
Para tanto, algumas condições devem ser observadas. O pesquisador explicou que ambientes com solos arenosos e com maior declividade, normalmente, requerem mais água. Da mesma forma, a demanda hídrica é maior em anos com temperaturas elevadas e umidade relativa do ar baixa ou com baixa precipitação.
Enfoque diversificado
Além desses pontos, a pesquisa sobre manejo da irrigação chama atenção para outros elementos, tais como época de semeadura recomendada para determinada localidade; modo de preparo do solo (plantio direto ou convencional); modo de semeadura (plantio de semente ou método pré-germinado); capacidade de retenção de água pelo solo; e ciclo da cultivar.
Stone disse ainda que os produtores interessados em trabalhar com sistemas de irrigação intermitentes devem fazer a avaliação econômica do investimento, pois pode haver gastos na adequação do ambiente para um controle mais apurado do bombeamento de água, de construção de taipas (pequenos diques entre as lavouras) e dos canais de irrigação.
A melhoria em sistemas irrigados de arroz está ligada também a outras áreas de investigação científica que contribuem para a diminuição do uso da água. Por exemplo, o aprimoramento de práticas culturais no manejo de nutrientes e de plantas daninhas resulta em maiores produtividades do arroz, sem que a quantidade de água seja aumentada.
Três alternativas de irrigação
Entre as estratégias de manejo para reduzir o uso da água na cultura, os pesquisadores recomendam três alternativas de irrigação: o sistema convencional, o intermitente e o aeróbio.
O convencional estabelece nível da lâmina de água em 7,5 cm, mantendo-a até a fase de maturação dos grãos; o intermitente, usa a mesma marca de nível da lâmina de água, 7,5 cm, mas deixa secar naturalmente até a diferenciação da panícula e depois da segunda cobertura de nitrogênio, retorna com a irrigação até o final do ciclo.
Quanto ao sistema aeróbio, mantém-se o solo sempre encharcado durante todo o ciclo da cultura. “Não existe um melhor sistema, mas temos possibilidades de direcionar parte da lavoura com sistemas diferentes de irrigação e atender as diferentes condições edafoclimáticas (solo e clima) de cada região”, considera pesquisador Ariano Martins de Magalhães.
Entretanto, o sistema intermitente tem demonstrado potencial na eficiência do uso da água, pois utiliza menor volume, menor intervalo de duração de dias de irrigação e uma produtividade satisfatória.
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