Tenho medo!
Tenho medo, sim! E não tenho medo de dizer que tenho medo... Dizê-lo com todas as palavras, é uma forma de afastá-lo e poder viver com os medos que me atormentam no dia a dia. São muitos medos: de morrer antes do tempo, medo de nunca mais ver a pessoa amiga que não vejo há tanto tempo, medo de sair de noite, de ser assaltado, medo de aranhas, de subir num lugar alto... Medos medíocres e grandes medos!
Ter medo é natural no ser humano. Faz parte da dinâmica de preservação. É uma proteção que nos impede de ir em direção ao perigo. O sujeito mais perigoso é o que não tem medo. Ele é capaz de arriscar a própria vida por qualquer coisa. Traficantes e milicianos utilizam jovens e crianças em suas ações assassinas. Elas não têm medo de morrer, pois ainda não sabem o valor da vida.
O medo coletivo pode ser utilizado como estratégia de controle social. Jean Delumeau mostra isso no livro clássico “A História do Medo no Ocidente”. Tanto as religiões como o poder político utilizaram o medo para controlar fieis e súditos. Medo do inferno e medo da cadeia. A política do terror é corrente no Ocidente. Do terror da Revolução Francesa ao terrorismo islâmico. Michel Foucault, por sua vez, nos mostrou que a manipulação do medo, nas sociedades modernas, foi integrada nos dispositivos da biopolítica. Impor o medo sobre a população é uma forma de fazer política. E isso conhecemos muito bem no Brasil atual.
Nesse momento, tenho medo do coronavírus. Ele é invisível. Circula por todos os lugares de forma ágil e sorrateira e, quando se instala nos pulmões de uma pessoa, é o terror! Mata por sufocamento. Tenho medo da Covid19. Muito medo!
Mas tenho mais medo daqueles que não têm medo da Covid19. Ou que aparentam não ter medo. Sua falta de medo é um perigo para a sociedade tão grande ou maior que a própria pandemia. Porque, quem não tem medo, além de expor-se à própria morte, é capaz de provocar a morte dos outros.
Diante de um perigo, precisamos nos proteger. Não com armas e muito menos com mentiras! É preciso encarar o perigo com tranquilidade e, no caso da Covid19, com os recursos da ciência.
Neste Domingo de Ramos, lembramos a entrada de Jesus em Jerusalém. Ele entrou na cidade com medo. Sabia que nela estavam os chefes do povo judeu que tanto o odiavam. E aí estavam também os soldados romanos prontos para controlar, pelo medo, a população judaica.
Jesus não se armou. Ele dispensou cavalos e soldados. Entrou montado num jumento. Um animal pacífico que não servia para a guerra. Entrou acompanhado por mulheres e crianças que o aclamavam com ramos de paz. Diante do medo dos discípulos que mandavam as pessoas calarem, Jesus seguiu seu caminho proclamando a verdade.
É tempo de pensarmos em nossos medos. E na forma como os enfrentamos. Fingindo que não temos medo e caminhando para a morte ou assumindo nossos medos e afrontando-os com a coragem da verdade.
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