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Substituir Jesus por Israel é genocídio

Miguel Debiasi

Algumas autoridades mundiais de personalidade tirana já deram sinais que estão dispostas a promover um genocídio em massa. Movidos por perversos interesses mercadológicos, políticos, ideológicos e amparados de estrutura tecnológica/bélica e militar, estão exterminando grupos nacionais, étnicos e religiosos. Para estas autoridades, a vida humana vale menos que uma bala de chumbo ou um cartucho metálico.

A frase do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), “Deus está morto”, é um dos pensamentos mais citados e menos compreendidos. Por ter afirmado que “Deus está morto”, Nietzsche foi menosprezado em toda sua obra intelectual. Mas Nietzsche foi um sábio conhecedor da literatura romântica alemã de sua época, da literatura ocidental e da Grécia Clássica. Disciplinado nos estudos adquiriu vasta sabedoria, a ponto de ser nomeado para uma cátedra em filosofia clássica na Universidade de Basileia, na Suíça, tornando-se professor universitário com 24 anos.

Para muitos críticos, Nietzsche foi influenciado pela tragédia grega. Mas é nessa literatura que Nietzsche construiu conhecimento para questionar o racionalismo filosófico, a moralidade cristã e o niilismo existencial. Na filosofia nietzschiana é possível destacar seus principais conceitos como “além-do-homem”, “transvaloração de valores”, “vontade de poder” e “niilismo”.

O “além-do-homem” ou para alguns “super-homem”, é o conceito que se refere ao ser humano com capacidade de libertar-se das amarras morais da sociedade e viver por si mesmo. Nietzsche entende o cristianismo que em sua origem apareceu como movimento de escravos que se libertaram de seus senhores e que resultou na inversão dos valores morais.

Para transpor essa inversão, faz-se necessário um processo que Nietzsche chamou de “transvaloração”. Ou seja, da reavaliação da moral, com objetivo de instituir novamente o que seria bom e ruim para a humanidade, sem recorrer aos ideais cristãos.

O conceito de “vontade de poder” aparece como uma expressão máxima da vida e da força humana e natural. Que para Nietzsche seria uma espécie de energia vital que tocaria tudo o que existe, fazendo as coisas desenvolverem-se. O “niilismo” Nietzsche entende como algo prejudicial para o ser humano, por ser uma negação da vida material e biológica em detrimento de uma vida extraterrena, que na realidade não existe.

Com seus próprios conceitos filosóficos Nietzsche dizia que fazia filosofia como quem dá golpes com um martelo. Fazia filosofia com o objetivo de desconstruir os ídolos da cultura ocidental, que segundo ele, reprimia o ser humano mais que libertá-lo.

Como na filosofia, como no cristianismo, a partir da reflexão surgem conceitos fundamentais para dialogar sobre questões essenciais da vida. No cristianismo apareceu o termo “anticristo”, palavra encontrada no Novo Testamento, nas epístolas joaninas, inclusive nos Evangelhos.

O termo “anticristo” é traduzido da combinação de duas palavras da língua grega antiga àvtí + Xpiotósc (anti + Christos). O termo Xpotósc significa “o ungido”. O “àvtí” significa não apenas “anti” no sentido de “contra” e “oposto de” mas também “no lugar de”. O “anticristo” nas epístolas joaninas é anunciado como “o enganador” de última hora (1João 2,18), “o sedutor” (2João 1,7), aquele que nega o Pai e o Filho.

A palavra “anticristo” do grego pseudokhristos significa “falso messias” é usada por Jesus: “Então se alguém vos disser: Olha o Cristo aqui! ou ali, não creiais. Pois hão de surgir falsos Cristos e falsos profetas, que apresentarão grandes sinais e prodígios de modo a enganar, se possível, até os eleitos” (Mateus 24,23-24; Marcos 13,21-22). Em Jesus e São João, o “anticristo” não é só uma pessoa, mas também uma classe.

Os padres apostólicos do final do século I e início do II do cristianismo, como Policarpo de Esmirna (69-155 d.C.), bispo de Esmirna, cidade do sudoeste da Turquia, emprega o termo que advertiu os filipenses que todo aquele que pregava falsa doutrina era um “anticristo”. Policarpo também não identifica um único “anticristo”, mas uma classe de pessoas.

Santo Irineu de Lyon, bispo de Lyon, mártir e padre grego, do século II, em seu livro V Contra as Heresias, aborda a figura do “anticristo” referindo-se a ele como a “recapitulação da apostasia e rebelião”. Usando “666”, o número da Besta do Apocalipse (13,18) decodifica vários nomes possíveis, como “Evanthos”, “Lateinos”, todos pertencentes ao Império Romano.

Em 1947 a Organização das Nações Unidas (ONU) aprova a divisão da Palestina em dois Estados – um judeu e outro árabe. Essa resolução é rejeitada pela Liga dos Estados Árabes. Esse impasse é o estopim das sucessivas guerras que acontecem na região do Oriente Médio.

Em 1948, os judeus proclamam o Estado de Israel, provocando a reação dos países árabes. Dessa data gera-se a primeira guerra árabe-israelense, com vitória de Israel sobre o Egito, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano, onde acontece a ampliação do território israelense em relação ao que fora estipulado pela ONU. Centenas de milhares de palestinos são expulsos para os países vizinhos. Como território palestinos restaram a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, ocupadas respectivamente por tropas egípcias e jordanianas. Desde sua criação, o Estado de Israel tem invadido os países vizinhos, matando inocentes e ocupando territórios de outros países. O Hamas fundado em 1987 e o Hezbollah criado em 1985 são consequência das constantes invasões de Israel em território palestinos e libanês.

As expressões “anticristo” e “Deus está morto”, advertem do poder satânico, que matam inocentes como os pobres palestinos e libaneses, só na Região de Gaza já passam dos 32 mil mortos e 75 mil feridos. Por força da comunicação da mídia empresarial e comercial que distorce os fatos na sua origem chega-se ao cúmulo de cristãos substituírem Jesus Cristo e seu Evangelho pelo Israel, país que já invadiu oito vezes o Líbano.

“Deus está morto” e “anticristo” advertem que em todos os tempos surgem personalidades e grupos políticos, étnicos e religiosos que imprimem ideias e ações que levam a desvalorização dos valores mais supremos da vida. A consequência é que milhares de inocentes são levados à morte. Estamos assistindo um genocídio em massa, Jesus ensinou o oposto disso.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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