Quem poderá nos salvar?
A pergunta é antiga. Estamos sempre voltando para ela. Afinal, como humanos, vivemos a limitação da fragilidade e da finitude. Sabemos que, sozinhos, não podemos alcançar tudo o que sonhamos. Desde o nascimento até a morte, precisamos dos outros. De um pai e de uma mãe para sermos gerados e criados. Da família para proporcionar o entorno de proteção, cuidado e carinho.
Durante a vida, precisamos da sociedade para ter o espaço de sobrevivência, cultura e realização. No curto tempo de existência, aproveitamos daquilo que outras gerações construíram antes de nós. E usufruímos do que outras pessoas – vizinhas ou de recantos remotos do mundo – desenvolvem e partilham conosco.
Na velhice e na morte, também precisamos dos outros. Para cuidar-nos nas debilidades que surgem da idade e para acompanhar-nos na morte e depois dela, no caminho final do cemitério ou do crematório.
As religiões nascem da experiência radical de que o ser humano não se realiza por si mesmo. Elas afirmam que a salvação de cada pessoa e da humanidade vem de uma realidade que é maior que a humana e que é chamada “Deus”. Ele salva ou envia alguém para salvar as pessoas que a ele se devotam.
Toda religião responde à pergunta fundamental: quem poderá nos salvar? É a pergunta que Jesus faz aos discípulos: Quem dizem as pessoas ser o Filho do Homem? “Filho do Homem”, na tradição judaica apocalíptica, era a pessoa enviada por Deus que traria a salvação para a humanidade. Alguns diziam que o salvador era João Batista, outros Elias, Jeremias ou algum dos profetas.
Diante das respostas, Jesus faz o teste final e pergunta se os discípulos viam nele a salvação de Deus. Pedro responde afirmativamente. Mas responde com uma resposta que mostra quem é Pedro e não quem pode ser o Salvador. Pedro imagina um salvador forte e poderoso que esmaga os adversários. Ele projeta em Jesus seu desejo de vingança contra os opressores dos judeus e quer que Jesus os esmague com força e poder. Jesus diz que Pedro, pensando assim, se torna um tentador, um satanás. Atribui a Deus o jeito de agir do diabo e, no lugar da salvação, traz a perdição.
Pedro não era uma pessoa má. Mas tinha uma ideia equivocada da liderança e do modo de fazer as coisas. E ele projetava em Jesus seu modo vingativo de pensar. Não é uma atitude exclusiva de Pedro. Nós também podemos repeti-la ao buscar salvadores que não agem como Deus mas agem como o diabo, aquele que divide, cria confusão, mente e mata.
Neste tempo de incertezas, de medo, de insegurança, mais do que nunca, é preciso estar atento e discernir os verdadeiros sinais de salvação e não confundir o agir de Deus com o agir de satanás. Só assim poderemos seguir o verdadeiro salvador e ficar longe do falso e enganador.
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