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Pane-economia

Miguel Debiasi

 

O Evangelho tem uma palavra a dizer em todos os tempos e contextos. Os cristãos de todos os tempos são chamados a levar a palavra do Evangelho a todas as realidades humanas. Esta missão supõem encantamento dos cristãos pela boa notícia do Evangelho. Em tempo de secularização e emancipação humana da religião, anunciar o Evangelho é tarefa desafiadora.

O teólogo estadunidense Harvey Cox definiu a secularização como “a libertação do homem, antes de mais nada do controle religioso e depois do controle metafísico sobre a mente e sobre a sua linguagem”. A secularização é retirada do homem de um mundo metafísico e espiritual para concentrar-se neste mundo e neste tempo do saeculum = a época presente. A sociedade secularizada é a sociedade despida de qualquer vínculo religioso e privada de qualquer Ser sobrenatural. Para Cox a secularização seria evolução e fruto maduro do próprio cristianismo que está em absoluta sintonia com a natureza de Deus, que revelou ao homem um mundo dessacralizado e de total autonomia do próprio ser humano.

Nos Estados Unidos no período pós-guerra surgiu um movimento teológico que chegou a falar da “teologia da morte de Deus”. Entre os principais representantes estão os teólogos Gabriel Vahanian, William Hamilton, Thomas J. J. Altizer e Paul M. van Buren. Estes desenvolvem a ideia que a sociedade secularizada não pode crer em Deus, há a “morte de Deus”, como defende G. B. Mondin. A teologia não deve deixar-se seduzir por um discurso religioso que diz respeito a Deus, mas sim direcionado exclusivamente ao homem e à sua vida aqui na terra. O movimento teológico faz a crítica a teologia metafísica que perdeu referência a situação histórica do ser humano. Para estes teólogos, a teologia precisa a partir da realidade humana proferir um discurso sobre Deus afim que as pessoas acreditem em sua Boa-Notícia, o Evangelho de Cristo.

A secularização deixou o discurso da filosofia e da teologia mais antropológicos e sociológicos. A mudança do discurso teológico adquire termos éticos e humanitários como da liberdade humana e da consciência plural. A teologia moderna empenha-se na perspectiva da libertação humana e num discurso de Deus a partir do ser humano e de sua situação histórica. O cristianismo e a teologia ocupam-se com a existência humana e a ética social, com isso haveria a superação da “teologia da morte de Deus”. Na atualização do discurso teológico há a significação do Evangelho para a cultura secular como escreve o teólogo Paul M. van Bauren. Pois, para o Evangelho não há fronteiras temporais e contextuais, sua mensagem atualiza-se em nosso tempo.

A teologia pode construir um discurso sobre Deus a partir da realidades humanas periféricas, pois o Evangelho é uma palavra a toda humanidade, sobretudo, para os últimos da sociedade (Mates 25,31-46). É olhando para as periferias humanas que a teologia pode pensar sobre o mistério de Deus e dizer alguma coisa que transforme as realidades em prol da libertação e salvação (Lucas 4,18-22). A luz do Evangelho a teologia consegue dirigir uma palavra as pessoas e despertar nelas uma fé transformadora da realidade. Uma palavra sobretudo dos paradoxos da existência humana é tarefa da teologia.

Em 2020 o Brasil perdeu 7,2 milhões de postos de trabalho. Conforme IBGE, também houve queda na categoria dos empregados no setor privado com carteira de trabalho. O desemprego chegou a 14,6%, com 14,8 milhões de pessoas desempregadas. A população ocupada teve um recuo de 8,1%. As carteiras assinada atingiram a menor taxa da história, 41,7%. A população desalentada subiu para 5,8 milhões. O governo Bolsonaro deixou nada menos que 52 milhões de desempregados. A teologia que reflete a partir das pessoas tem a dizer uma palavra sobre esta situação à luz do Evangelho, pois Deus não está morto. Certamente, o teologizar a partir da condição secular da humanidade, percebe a presença de Deus com o rosto mais sofrido em cada pessoas privada de trabalho, teto, terra, vida digna. Uma realidade que precisa ser refletida e denunciada pela teologia, em contrário, compactuaria com a ideia da “teologia da morte de Deus”.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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