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O Sabor do sal

Vanildo Luiz Zugno

 

Os cinco sentidos são indispensáveis para nossa sobrevivência. Eles nos comunicam com o mundo ao nosso redor. Sem eles, nos isolamos e morremos. Ser privado de um deles resulta numa limitação que exige um redobrado esforço dos outros.

Dentre todos, talvez o paladar seja aquele a que damos menos atenção. Mas não por isso é menos importante. Ele nos permite realizar de forma eficaz uma das necessidades elementares do ser humano: comer!

Sem comer, morremos por inanição. Mas também não podemos comer qualquer coisa. Comer sem critério, também pode levar à morte. A função do paladar inclui selecionar aquilo que comemos. Fazemos isso através dos milhares de botões gustativos que recobrem nossa língua e permitem identificar e classificar os alimentos.

Mas, além do gosto, existe também o sabor. O gosto é a reação química do corpo diante do que é colocado na boca. O salgado é um dos cinco gostos básicos que nossas papilas gustativas conseguem identificar. Sabor, é a combinação do gosto com outros sentidos e com toda uma aprendizagem do que é agradável e desagradável.

Em nossa cultura, o sal joga um papel fundamental na composição dos alimentos. Mas ninguém come sal. Se comemos sal puro, sentimos um enorme desprazer. Mas, comida sem sal não tem graça, é insossa, sem sabor, nosso paladar a rejeita. Um dos desafios de todo o cozinheiro, é encontrar o ponto certo do sal de modo que o gosto seja saboroso e agrade.

Talvez por isso, Jesus, ao falar da missão aos seus discípulos, tenha usada a imagem do sal. Ele afirma que seus discípulos são o sal que dá sabor à terra. Sem o sal do anúncio, o mundo fica sem graça. Mas a pregação, assim como o sal, deve ser posto na justa medida. Caso contrário, se torna intragável.

Mas aí vem a pergunta: qual é a justa medida da pregação de modo que ela realmente se torne o sabor do mundo?

O apóstolo Paulo, na Carta aos Coríntios, afirma que o sabor da pregação não é dado pelas palavras bonitas do pregador. O que dá o gosto ao anúncio cristão, segundo Paulo, é o Cristo crucificado que se identifica com os sofredores deste mundo.

Já o profeta Isaías, dá nome ao sal da pregação. Para ele, a pregação só tem o sabor de Boa Nova quando leva a repartir o pão com o faminto, a acolher na própria caso o pobre e o peregrino, vestir o nu, destruir os instrumentos da opressão, abandonar os hábitos autoritários e a linguagem maldosa, acolher de coração aberto o indigente e a prestar socorro a todo tipo de necessitado.

Segundo Isaías, quando prega e pratica este modo de ser, o discípulo compõem o bom prato que satisfaz ao paladar de todos. E mais: além de contemplar o paladar, este bom prato também desperta o sentido da visão. E o cristão, além de ser sal da terra, torna-se também luz do mundo.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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