Natal: tempo de alegria
Natal: tempo de alegria
Que o Natal é tempo de alegria, todo mundo sabe. Especialmente o comércio e o turismo que “fazem a festa”. Não a do nascimento do Deus-menino. É a festa do Papai Noel, o maior vendedor de todos os tempos. Um verdadeiro “deus do comércio”. Pensando bem, talvez o velho gordinho seja a versão moderna do deus romano Mercúrio. Apesar das diferenças de peso – Mercúrio é magro e o Papai Noel é gordo - os dois têm várias semelhanças: vestem vermelho, se deslocam voando – um de trenó e outro com asas nos pés – e estão sempre carregando um saco. O de Mercúrio é pequeno, uma simples bolsa amarrada por um cordão e levada nas mãos. O do Papai Noel é grande e levado nas costas pelo idoso. Mercúrio carrega dinheiro. Papai Noel aquilo que o dinheiro pode comprar. Os pais sabem bem disso...
Na verdade, os “presentes” que o dito “bom velhinho” traz não vêm de graça. São cada vez mais caros. Parece que a inflação das terras geladas de onde as renas trazem o trenó é mais alta que a do Posto Ipiranga. E ainda tem os presentes sem graça. Aquelas coisas que ganhamos e não sabemos o que fazer com elas. Ficam entulhando a casa e a gente fica fingindo que gostou apenas para agradar o amigo nada secreto de Natal. Nesta história de presente sem graça, o único que ganha são os comerciantes e os fabricantes de quinquilharias. Mas é o “espírito de Natal”. Não o de Jesus, mas o de Mamom, a versão cananeia de Mercúrio e de Papai Noel.
Mas voltemos ao Natal. O verdadeiro Natal. O do Deus que se faz menino na gruta de Belém, nascido da virgem Maria e de José nos tempos em que Tibério era o Imperador de Roma, Pôncio Pilatos o governador da Judéia, Herodes administrava a Galileia e seu irmão Filipe as regiões da Ituréia e Traconítides e o outro irmão, Lisâneas, governava Abilene. E para não esquecer do poder religioso, Lucas lembra que Anás e Caifás eram os Sumos Sacerdotes de Jerusalém.
É com esta “análise de conjuntura” onde apresenta os poderosos que oprimiam o povo, que o evangelista Lucas inicia sua narrativa da vida de Jesus. Início da Boa Nova que é lido na liturgia do Segundo Domingo do Tempo do Advento. A alegria anunciada por João Batista, o filho de Zacarias e de Isabel. Alegria que não pode ser conquistada com a espada dos poderosos, os incensos do templo e nem comprada com o dinheiro de Mercúrio ou de Mamom e tampouco transportada em um trenó.
A verdadeira alegria é a anunciada por João Batista, o filho do sacerdote que deixou o templo para, qual novo profeta Baruc, anunciar que o reinado de Deus está chegando. Um reinado onde a paz brotará da justiça para com os empobrecidos e a glória de Deus se tornará concreta e real na misericórdia entre os humanos e destes com toda a criação.
Como canta o Salmo 125 nesta mesma liturgia, a verdadeira alegria não é a anunciada pelo “Oh!Oh!Oh” da propaganda da Coca-Cola. A voz que a anuncia é a do Santo que chama os sem teto, os sem trabalho e os sem terra do mundo inteiro para a construção de uma nova sociedade, do Novo Céu e da Nova Terra onde todos serão verdadeiros cidadãos, filhos e filhas de Deus de pleno direito e fato. A alegria do Natal anunciada por João Batista, realizada por Jesus e celebrada no Segundo Domingo do Advento, é a certeza de que “os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria” e que são “bem aventurados os que choram, porque serão consolados”.
Um bom esperançar natalino a cada um e cada uma!
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