Desigualdade social, vergonha?
A igualdade social é condição para uma convivência social ética. O projeto político que pensa na superação da desigualdade social no Brasil e no mundo seria uma utopia? A tamanha desigualdade social que vivem milhões de brasileiros convoca a todos para uma responsabilidade ética e social a transformar a sociedade como espaço de convivência digna para todos.
Diante da realidade tão desigual pode vir à mente a frase da Santa Madre Teresa de Calcutá (1910-1997): “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”. A consciência e ações que demonstrem responsabilidade social é um fator indispensável para a construção de uma sociedade sustentável. As ciências sociais aplicadas que estudam ações dos humanos e de sua relação com a sociedade e com o planeta, têm apresentado uma evolução em seus conceitos e estes impõem a todos, obrigações sociais e deveres morais.
Um conceito bastante debatido em nosso tempo e que muito evoluiu é o “desenvolvimento sustentável”. Pelo olhar da ciência o “desenvolvimento sustentável” é compreendido como aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer os recursos naturais, planetários ou do universo. Preserva todos os recursos universais para que as gerações futuras possam suprir suas necessidades.
Outro conceito muito empregado é da “dimensão ética da sustentabilidade”. Este é aplicado no sentido de que todos os seres humanos possuem uma relação intersubjetiva e natural com tudo e com todos. Por meio desta dimensão ética da sustentabilidade desenvolve-se uma empática solidariedade. No sentido cristão, a compaixão como dever universal de deixar um legado positivo na face da terra.
Nesse campo teórico e prático da ética, o desdobramento é vasto. Emprega-se a “ética da sustentabilidade”, para expressar a conduta humana que usa e utiliza de forma responsável os recursos da natureza, de modo, não os exaurir e comprometer sua renovação. Por ‘ética social’ entende-se os princípios morais e filosóficos que, de uma forma ou de outra, representam um caminho coletivo de educação e de construção de cultura.
Pelas circunstâncias da situação social tem elevado valor os “direitos sociais”. Os direitos sociais têm ganhado relevância e importância porque estão relacionados, às condições elementares para assegurar a dignidade humana. Em nome deste direito social recorre-se aos recursos jurídicos sempre que a pessoa humana não tem o mínimo necessário para viver e sente-se lesada em sua dignidade social.
Nesta abordagem emprega-se com muita frequência o termo “sociedade sustentável”. Compreende-se por “sociedade sustentável” uma sociedade que comporta condições e mecanismos públicos de garantir vida digna a todos os cidadãos e dos ecossistemas, nos quais a sociedade está inserida junto com a comunidade de seres humanos. A sustentabilidade deve-se entendê-la nas suas dimensões: social, econômica, ambiental, tecnológica, cultural, espacial, psicológica e de política nacional e internacional e de transnacionalidade.
Por estas categorias entendemos o imperativo ético que tem uma relação tridimensional: implementado em solidariedade sincrônica com a geração atual, diacrônica com as futuras gerações, em solidária sintonia com a natureza. Em suma, em benefício de toda a comunidade de vida e com os elementos abióticos que lhe dão sustentação.
A paz social é um bem necessário para uma profícua convivência social. O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) argumentou filosoficamente em prol de um projeto da Paz social e tornou-se utopia da sociedade. Kant chegou a construir um tratado sobre Paz como Perpétua e os teóricos pós-kantianos recorreram a esta reflexão para grandes debates acadêmicos, filosóficos e sociais. A paz sendo ausência de todas as hostilidades, violências e desigualdades sociais é realmente uma das grandes necessidades da humanidade desde os primórdios da civilização.
As consequências das desigualdades sociais são imensuráveis e impactam negativamente o desenvolvimento da humanidade. Como a Paz em Kant considerou-se como a ausência de guerra, passou a ser a ausência de todas as hostilidades, assim, os conflitos e tensões sociais nascem da desigualdade social.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, diz sentir vergonha da “desigualdade abissal: seis pessoas têm a riqueza de metade da população”. Durante uma participação em um evento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o ministro da suprema corte criticou a desigualdade social brasileira e afirmou que “é preciso enfrentar o atual modelo vigente do país”.
Segundo o Oxfam (Comitê de Oxford para o Alívio da Fome), as seis pessoas mais ricas do Brasil têm a riqueza de metade da população brasileira. Os dados demonstram que temos também índices de violência urbana e rural no país que superam a violência dos países em guerra. Este modelo vigente de sociedade brasileira nos envergonha diante do mundo. Nessa estrutura de sociedade tem muita coisa errada que será preciso corrigir para termos uma convivência social digna e ética, afirma o ministro. Convenhamos que é preciso concordar com Barroso.
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