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Caminhar, comer e meditar

Vanildo Luiz Zugno

O que fazer para mudar o mundo? É a pergunta que todos os que temos um mínimo sentimento de humanidade fazemos. Só quem é insensível diante de tudo o que está acontecendo – guerras, fome, peste, ecocídio, feminicídio, racismo, genocídios... – pode abdicar de preocupar-se com o futuro da humanidade e do planeta que nos cabe habitar.

Muitos talvez desistam da inquietação diante da enormidade das situações que se apresentam. Os problemas são grandes demais para que um indivíduo sozinho ou com seu pequeno círculo de relações possa fazer algo. Então, é melhor não fazer nada pois, agindo, podemos piorar ainda mais a situação.

Pior que este temor muitas vesses pode ser verdadeiro! Afinal, para enfrentar os Cavaleiros do Apocalipse que ameaçam tudo destruir, é preciso uma ação conjunta que reúna forças para enfrentar aqueles – pessoas, grupos econômicos e países – que ganham com o mercado da morte. A tanatofilia não é apenas um distúrbio psicológico. Ela é um programa político e um mercado rentável. Basta ver o lucro das empresas produtoras de armas e o modo como alguns candidatos se alçam ao poder.

A política é o único caminho para se construir uma alternativa que defenda a vida de todas as pessoas e dos demais seres vivos e do Planeta Terra. Não há outro caminho. Ele é longo. Exige serenidade e perseverança. Trilhá-lo com paixão e compaixão é a única alternativa possível a longo prazo.

O problema é que quem tem fome e tem a vida ameaçada, não pode esperar tanto. E aí emerge o outro lado de uma possível solução. Precisamos iniciar logo a mudança e dar os primeiros passos com nossos próprios pés. E isso literalmente! Afinal, na raiz das muitas ameaças à vida sobre a Terra, está a demanda insaciável por energia que o modo atual de organizar a vida sobre a Terra – aquilo que pomposamente chamamos de Economia – exige. Por trás das guerras, da destruição ambiental e da fome, está a necessidade de petróleo, gás, energia elétrica, nuclear... E o carro é o vilão simbólico do consumo desenfreado de energia. Andar a pé, de bicicleta ou em transporte coletivo, é o início de uma verdadeira revolução.

Ao andar a pé, gastamos energia. E para repô-la, temos que comer! E aí vem a segunda opção: comer menos carne. Efetivamente, a produção de “proteína animal” é a principal causa do desmatamento, do desperdício de água e do desequilíbrio ambiental. A cada quilo a menos de carne que comemos, estamos ajudando a manter viva a criação e a harmonia entre os humanos e destes com o meio ambiente.

Para manter estas difíceis opções, é preciso pararmos para pensar no sentido da curta e frágil vida humana. Afinal, dificilmente passaremos dos cem anos! Vale a pena passar este curto tempo correndo pelas estradas reais e virtuais sem sentir o sabor da paisagem que se esvai e da qual só ficam em nossa memória vagos fantasmas? Melhor ir devagar... suavemente, docemente, calmamente, tomando tempo para saborear cada passo, cada espaço, cada momento. Meditar é a solução. Menos agitação e mais contemplação, certamente nos ajudarão a sentir, pensar, viver e construir um mundo melhor.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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