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A situação crítica da classe trabalhadora

Miguel Debiasi

Você é associado ao sindicato? A reforma trabalhista que entrou em vigor em novembro de 2017 provocou uma desvalorização da categoria sindical. A não associação ao sindicato tem consequências negativas para o trabalhador(a) e para sociedade. Via categoria profissional, trabalhador (a) pensa no trabalho e nas condições para melhor executá-lo, valorizando a classe trabalhadora como imprescindível para evolução da humanidade.

 

Desde a pré-história o trabalho é um instrumental de desenvolvimento dos primeiros humanos na terra. Em cada época o trabalho caracteriza um processo histórico de transformações socioeconômicas, desde a forma de produção de bens, de consumo e até constituir relações sociais. A cada crise econômica, um novo paradigma de trabalho é pensado. Na crise de 1970 culminou na queda do modelo de produção taylorista/fordista e da política de Estado Keynesiana e propiciou o advento do modelo japonês – toyotista e da política Neoliberal que privatiza e que afeta a classe trabalhadora. Nesse modelo o trabalho passa por profundas transformações, suas condições foram precarizadas, os direitos sociais conquistados foram violados e a classe trabalhadora enfraquecida.

 

O século XX foi o contexto de significativas transformações socioeconômicas, consequentemente, palco de discussões sobre o trabalho e de segregação da classe trabalhadora. Os avanços científicos e tecnológicos que trouxeram benefícios ao sistema/capitalista neoliberal promoveram a flagelação da sociedade trabalhadora. O sistema/capitalista neoliberal levou a uma permanente crise da classe trabalhadora e rompeu todas as barreiras, às territoriais, nacionais, éticas na busca de mão de obra barata. Para este sistema predominante no século XXI o mundo gira em torno da obtenção de lucro, da mais-valia e da exploração da força de trabalho. A população mundial precisa vender sua força de trabalho por míseros valores para sua sobrevivência, que na sua maioria encontra-se em péssimas condições.

 

A sociedade do século XXI está submetida aos desprezíveis binômios riqueza/pobreza, abundância/escassez, capital/trabalho, oferta/demanda. A produção homogeneizada em massa e em série, estrutura-se com base no trabalho parcelar e fragmentado, que reduz a ação operária a um conjunto repetitivo de atividades. Na ação mecânica e repetitiva o trabalhador(a) é concebido(a) como um complemento da maquinaria dentro do processo de produção e que realiza tarefas rotineiras e ações mecanizadas por uma longa jornada de tempo.

 

O sistema/capitalista neoliberal com a política de mercado redireciona suas estratégias aos índices de qualidade de produtos, entrega rápida e controle de qualidade, modificando o conceito de trabalho e de trabalhador(a). Para conquistar o mercado competitivo, a nova proposta de produção baseada no modelo do toyotismo, os trabalhadores(as) são concentrados em grupos especializados e submetidos a exigência polivalência a desempenhar mais de uma função, de modo que sua capacidade intelectual se torna, objeto de expropriação. O toyotismo introduz a Informatização e a Robótica nas fábricas, com o intuito de aumentar a produção em curto espaço de tempo, assim, baratear a mão-de-obra e atender as exigências do mercado.

 

Nos moldes do toyotismo que atende os interesses do mercado aumenta o número de pessoas desempregadas e sem qualificação profissional. Com o desemprego o comércio informal cresce e torna-se meio empregatício para um elevado montante de trabalhadores(as) desempregados(as). A política econômica neoliberal que batota os direitos trabalhistas e sociais, enfraquece o Estado que deixa de arrecadar recursos suficientes para as demandas básicas como a seguridade social. A classe trabalhadora tornou-se a massa de manobra, o trabalho e o trabalhador(a) favorecem cada vez mais o capital que trata de alinhar seus objetivos em benefício da classe burguesa, a detentora do capital.

 

Em 2008 o sistema/capitalista neoliberal entrou em crise mesmo obtendo lucros subsidiados pela mão-de-obra barata e pelo trabalho doméstico ou em células familiares sem direitos trabalhistas. Desde então, as políticas de trabalho neoliberais são sempre mais seletivas, focalizadas e fragmentadas que contribui no aumento do número de trabalhadores(as) na economia informal e mão-de-obra barata da terceirização.

O sistema/capitalista neoliberal fala da Indústria 4.0, também chamada de Quarta Revolução Industrial, que engloba um amplo sistema de tecnologias avançadas como inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem modificando as formas de produção e os modelos de mercado e negócios do mundo. O intuito de promover uma Quarta Revolução Industrial é exatamente atender os interesses do grande capital. Nessa lógica, é possível vislumbrar no sistema/capitalista vigente o desmonte da classe trabalhadora, acentuação da exploração dos trabalhadores(as) e a progressiva supressão dos direitos trabalhistas e sociais.

 

Com 208 milhões de desempregados e outros tantos na informalidade, é preciso repensar o sistema, como investir na inovação do trabalho e no modelo de produção de bens, como um novo advento para classe trabalhadora e para a humanidade. Um novo advento que vença o desemprego, a informalidade, a desqualificação profissional, a degradação das relações e das condições de trabalho precário. Novo tempo em que o sentido do trabalho se apresenta muito além da produção de bens de consumo e da relevância da classe trabalhadora que protagonize pela sua organização e debates avanços coletivos da sociedade e da humanidade.

 

A chegada de uma nova área para classe trabalhadora inicia pela concepção do trabalho como meio de promoção humana, saúde, bem-estar-social-coletivo para todos(as), sinônimo de Revolução Humana, outro sistema de produção e desenvolvimento. Esta parece ser uma tarefa contemporânea imprescindível da classe trabalhadora, dos grupos econômicos, empresariais, instituições financeiras, profissionais, educativas e Estado.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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