A luz da verdade inundou a criança
Olhou uma vez mais para a criança que ainda era, ela ainda batia dentro de si, no seu peito. Ela lutava para sorrir; conseguia ouvir lá no fundo do silêncio o eco das gargalhadas de outrora.
Nesse impulso queria atravessar a infância e a adolescência que vivera, com a pureza entre os lábios e encharcada de amor como costumava ser - pura luz, puro ternura. Nem sempre foi possível, algumas dificuldades tomaram forma. Olhava para elas agora e trazia-as para junto de si, para poder reformular, acalmar, simplificar.
A primeira criança que apareceu nas suas lembranças foi a ferida. Naquele momento não era a feliz, e precisava do seu olhar inteiro, afinal agora ela era a adulta da relação. Tinha claro que a criança ferida precisava ser restabelecida.
Veio o questionamento: - Em que momentos se sentiu ferida, triste, desamparada?
A Criança triste, a criança preguiçosa, a criança desinvestida de outrora, todas elas vieram a se mostrar. Uma a uma passaram pelo olhar da mulher adulta de agora e ela compreendeu que embora a chamavam assim, a criança nela estava só cansada, desestimulada... Foi desincentivada até ir murchando em si mesma. Olhando para trás agora sabia que quando estivesse revitalizada ia tolerar as críticas do outro e, como adulta, tolerava e conseguia colocar o outro no seu devido lugar...
Assim desfilava na sua mente a criança preguiçosa, a criança ferida, a criança esquecida. Todas elas davam espaço para a criança inteira, verdadeira, alegre, feliz, que compreendia as outras crianças, as resgatava e as transformava num impulso de renovação...
Agora presente a criança que sabia que os adultos se atrapalhavam e que dentro de si não ia deixar o mal-resolvidos deles entrar, a amassar sua essência, ou a deixar em desatino.
Junto a leveza sentida desse momento de encontro consigo mesma, encontrou registros que se misturavam... de cobranças, de críticas, de colocações de desvalor, aos registros de amor, de incentivo, de doces recordações... todos eles inundavam seu ser. Olhava para tudo isso agora com outro olhar, outra percepção.
Em quem a criança que ainda mora em si se transformou?
Olha para ti agora menina/mulher! Essa pureza de menina que deu espaço para a mulher nascer ainda está em ti?
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