A economia, o sagrado e o religioso
O fenômeno religioso do século XXI apresenta-se como uma realidade que demanda estudo da teologia e da ciência. Em todo o período da história o sagrado e a religião corroboram na realização da vida humana. É em tempo de crise econômica que o sagrado e o religioso apresentam-se como caminho de realização das pessoas.
O século XX deixou profundas interrogações ao proporcionar duas Guerras Mundiais. Numa matança mundial tudo é posto sob suspeita, valores e políticas públicas. A Guerra Mundial não deixa de ser sinônimo de derrota da autossuficiência humana. Consequentemente qualquer perspectiva futura é uma incerteza, uma insegurança mundial. Em todo conflito mundial há intransigência e incapacidade humana manifestada. O senhorio humano é reduzido a sua autossuficiência intolerante. Diante de uma guerra mundial os suscetíveis ao prejuízo são os pobres, com o preço de mais miséria. Historicamente num período pós-guerra manifestou-se indiferença às camadas mais empobrecidas. Aos pobres resta contar com a confiança no sagrado e na religião.
É propriamente isto que leva em consideração o economista Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), através de uma pesquisa da recessão econômica brasileira. O objetivo do economista foi averiguar que dimensões da vida foram afetadas de maneira direta e indireta pela crise econômica. O resultado da pesquisa apontou o fenômeno sagrado e religioso como elemento extremamente significante em período de recessão econômica. Como primeira constatação apareceu o crescimento da confiança no sagrado e no religioso. No agravamento da crise da economia fortaleceu-se a experiência do sagrado e do religioso. Segundo o economista, a crise econômica pode ser definida como uma noite escura e a experiência do sagrado e da religião como o dia, luz e esperança.
Sem dúvida alguma, a fé é intrínseca à temporalidade humana. Para o economista Marcelo Neri, a crise econômica levou ao fortalecimento de comunidades religiosas como as igrejas pentecostais. Em razão de que “a própria infraestrutura das igrejas pentecostais é uma oportunidade de trabalho para quem está desempregado. Essas novas denominações funcionam um pouco como uma franquia: um fiel ou uma fiel pode abrir um templo na garagem de casa, junta algo para a comunidade com algo de que você precisa, uma ocupação”. Ainda que a pesquisa do economista careça de estudos por parte da ciência da religião, a priori confirma a importância do fenômeno religioso diante da recessão econômica instalada no país. Isto traduz que a confiança do pobre é o sagrado, a prática da religião e a comunidade religiosa, e não a economia e o governo.
Assim, como uma Guerra Mundial arrasa países e a humanidade, toda crise econômica é sinônimo de desconfiança nas políticas humanas. É justamente isto que os estudos do professor Aldo Fornazieri, Diretor Acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FSCPSP), confirmam: “o sucesso das igrejas evangélicas nas periferias se deve justamente ao empobrecimento do país”. Em outras palavras, a economia não está no centro da discussão do pobre. Economia e mercado não lhe pertencem, apenas sua vida real. Logo, a Bíblia tem mais poder que qualquer política econômica globalizada.
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