Um viajante precisava atravessar uma cadeia de montanhas. A área apresentava dificuldades e por isso adquiriu um mapa do caminho. Mais ainda: contratou um guia que conhecia palmo a palmo a região e que também iria atravessar a área montanhosa. Os dois partiram, o viajante controlava o mapa e o guia se orientava pelos sinais ao longo do caminho.

Depois de algumas horas surgiu um atrito. O guia insistia em tomar um rumo diferente do que o assinalado no mapa. O viajante recusou: este caminho não está no meu mapa; seguindo por ele caminhamos para a morte. O guia explicou que houve um deslizamento e a pista indicada pelo mapa estava obstruída: por ela não chegaremos a lugar nenhum. Nasci aqui e conheço a área em detalhes.

Insensível aos argumentos, o viajante fechou a questão: seguirei o caminho do mapa. Os dois se separaram. O guia chegou ao destino. Quanto ao viajante, ninguém sabe o que aconteceu.

Há cinquenta anos, o Papa o papa João XXIII – o Papa bom – chamou a atenção da Igreja e da sociedade para os “sinais dos tempos”. Ele conhecia o mapa, mas estava atento aos sinais pelos quais Deus nos alerta e interpela. A história humana – com todas as suas contradições – é o lugar preferencial das manifestações de Deus: O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) Uma tradução mais livre diz: Deus se fez história e armou sua tenda no meio de nós.

O papa Francisco conhece o mapa, mas está atento aos sinais do caminho, no interno da Igreja e no mundo. Vindo do Terceiro Mundo, o Papa questiona algumas falsas “certezas” do nosso tempo. O “mapa” pode estar desatualizado. Há fraturas expostas que precisam ser levadas em conta. Ali estão os jovens, as drogas, ali está a natureza em agonia, ali está a legião dos novos migrantes, ali está a família sacudida por tempestades, ali estão as elites corruptas e alienadas. Seguir este caminho pode ser perigoso.

Um grande pensador do século XIX – Louis Veillot – aconselhava ter a Bíblia numa mão e um jornal na outra. A Bíblia é portadora de verdades imutáveis, mas também ilumina os sinais do caminho. Com eles Deus nos orienta sobre caminhos obstruídos e em suas encruzilhadas. Certamente outros caminhos são possíveis. Possíveis e necessários.

Frei Aldo Colombo