Subsídios exegéticos para o dia de Pentecostes
SUBSÍDIOS EXEGÉTICOS PARA A LITURGIA DOMINICAL - ANO B
Pentecostes
Dia: 23 de maio de 2021
Primeira Leitura: At 2,1-11
Salmo: 103, 1ab e 24ac.29bc-30.31.34
Segunda Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13
Evangelho: Jo 20,19-23
O texto do Evangelho de João se compõe de duas partes: reconhecimento de Jesus (vers. 19-20) e mandato missionário aos discípulos com a efusão do Espírito (vers. 21-22). Os dois momentos são articulados através da saudação: “a paz esteja convosco”.
Jesus havia aparecido a Maria Madalena junto ao sepulcro no domingo da ressurreição pela manhã. À tarde comparece, de repente, em um local onde as portas estão fechadas. As portas fechadas são um dado importante para percebermos a concepção que o evangelista quer transmitir de como o corpo de Jesus se transformou a ponto de passar através de portas fechadas. No entanto, mantém a imanência das marcas da crucifixão nas mãos e no flanco.
Jesus aparece aos discípulos para inaugurar o tempo escatológico, marcado pelo dom do Espírito. Ao medo dos discípulos, refugiados num espaço fechado, se contrapõe a liberdade do Ressuscitado que entra de supetão ignorando as portas fechadas.
A expressão “a paz esteja convosco”, repetida duas vezes não é uma simples saudação: expressa a concessão do dom messiânico por excelência, a paz.
Jesus retornou a seus discípulos pouco depois de sua partida, como havia prometido durante a última ceia (16,16-22), mas não no mesmo estado precedente de caducidade terrena, mas com o corpo transfigurado. A paz e a alegria representam os dons preditos pelos profetas para o tempo messiânico. Bastou que Jesus se fizesse reconhecer, mostrando as feridas nas mãos e o flanco perfurado, para os discípulos ficarem “cheios de alegria”. Curioso o fato de não se mencionarem os pés (como em Lc 24,40, em que, no entanto, não se menciona o flanco, em virtude de só em João o flanco de Jesus ser trespassado pela lança do soldado).
Jesus confere aos discípulos o encargo missionário: “Como o Pai me enviou, eu envio a vós” (v.21). Jo estabelece um paralelo entre a missão que Jesus havia recebido do Pai e o mandato que ele agora ele confia aos apóstolos. O advérbio kathōs, “como”, não indica somente semelhança, mas também fundamento. Os discípulos devem continuar a missão confiada pelo Pai a Jesus, tendo ele como modelo e buscando dele a força para seu ministério.
A santificação dos discípulos advém mediante a palavra reveladora de Jesus e a ação do Espírito Santo. Por isso a necessidade da efusão do Espírito como princípio da vida nova e como animador e auxílio indispensável para a missão.
A simetria da expressão ao início dos vers. 20 e 22 (“e dizendo isso”) assinala o nexo estreito entre a ostensão do flanco perfurado e o dom do Espírito Santo: a sua ação é inseparável daquela de Cristo. A efusão do Espírito Santo antecipada simbolicamente pela saída do sangue e água do costado de Cristo representa o ponto culminante da missão de Jesus. O sopro de Jesus sobre os discípulos se conecta ao testemunho inicial de João Batista no Jordão, quando o proclamou: “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo’ e o apresentou como “Aquele que batiza com o Espírito Santo” (1,29.33).
O verbo “soprou” (enephýsēsen = insuflou) evoca a obra da criação, quando Deus plasmou o ser humano com o barro e soprou (enephýsēsen) em suas narinas um hálito de vida, tornando-o um ser vivente (Gn 2,7; Sl 103,29-30; cf. Sb 15,11; Ez 37,9). O gesto em Jo 20,22 significa que Jesus suscita nos discípulos uma vida nova no Espírito Santo. As palavras do Ressuscitado tornam explícito o que fora insinuado na cena do Calvário: o Espírito provém do corpo traspassado e glorificado do Senhor, como seu dom à humanidade. Ele será comunicado plenamente, porém, só em Pentecostes (At 2,1-11).
A perícope se conclui relacionando o dom do Espírito Santo com a remissão dos pecados. Em Jo o poder de “reter” ou “perdoar” os pecados tem como objetivo a reconciliação e o retorno dos pecadores a Deus.
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF
Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
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