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Subsídios exegéticos para a liturgia do 6º Domingo Comum - Ano A

por João Carlos Romanini
Foto: Divulgação

Subsídios Exegéticos para a Liturgia Dominical - ano A

 

6º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Evangelho: Mt 5,17-37

Primeira Leitura: Eclo 15,15-20.

Segunda Leitura: 1Cor 2,6-10

Salmo: 118, 1-2.4-5.17-18.33-34

 

Evangelho

O evangelho de Mateus deve ser situado no período normalmente chamado de “judaísmo formativo”. No ano 70 de nossa era, Jerusalém foi invadida e arrasada pelos exércitos romanos, o templo foi destruído e a religião judaica foi esfacelada. Os fariseus formam o único partido político-religioso judaico que se conservou mais ou menos articulado e são eles que assumem a tarefa de reconstruir o judaísmo. Nos círculos religiosos, diante da nova realidade da Judeia, debatiam-se questões como: Que significa ser judeu? Qual o significado das Escrituras e como praticá-las? Quem tem autoridade para interpretar a Torah? Estas e outras questões refletem as inseguranças que, de algum modo, afetavam não só os judeus que se mantiveram fiéis à religião judaica, mas também aos que haviam aderido à proposta dos discípulos de Jesus.

Os capítulos 5–7 do evangelho de Mateus podem ser interpretados como a resposta das comunidades judaico-cristãs àquelas inquietações: Jesus é como que o “novo Moisés” que no “novo Sinais” entrega a “nova Lei” ao “novo povo de Deus”. Por isso, após as palavras de introdução (as bem-aventuranças, em Mt 5,1-12) e algumas comparações (Mt 5,13-16), Jesus começa a contrapor duas interpretações da Lei de Moisés: a interpretação pelos fariseus e a que ele mesmo propõe.

Para deixar claro que não pretende destruir a fé de ninguém, Jesus afirma: Não imagineis que vim abolir a Lei ou os Profetas (isto é, toda a Escritura): não vim abolir, mas cumprir (v. 17). O verbo cumprir aqui significa “dar sentido”: Jesus lê as Escrituras e a aplica à nova realidade dos discípulos. Mais ainda, ele afirma que tudo o que está acontecendo aos discípulos já estava previsto e faz parte de um projeto maior do Pai. Por isso, ele afirma que nem mesmo uma letra, por mais insignificante que seja, deixará de ser realizada. Este é o sentido dos vv. 17-18.

No v. 19, Jesus afirma que o fato de praticar e ensinar a praticar os mandamentos determina como alguém será considerado no Reino dos Céus: mínimo ou, inversamente, grande. Estas categorias não se referem a quais lugares as pessoas ocuparão; diferentemente, são expressões judaicas para indicar a exclusão ou a pertença ao Reino. Quem é mínimo é alguém descartável, isto é, que não ajuda em nada na construção da sociedade justa e fraterna que Jesus deseja. Ao contrário, quem é grande é alguém que, para o projeto de Jesus, é de grande importância, porque consigo arrasta outros para a verdade e a luz.

Por tudo isso, Jesus insiste que a justiça dos discípulos deve ser maior do que a dos escribas e dos fariseus (v. 20). Como, se escribas e fariseus cumpriam até os detalhes mais insignificantes das leis? Jesus ensina que não é a rigidez que torna uma pessoa melhor, e sim o amor a Deus e ao próximo com liberdade, acolhimento e misericórdia. Jesus ensina que cumprir os mandamentos só para receber elogios dos outros não é verdadeira fidelidade a Deus: é pura vaidade (Mt 6,1-6.16-18).

O evangelho continua com uma série de contraposições: de um lado, o que a Lei e as tradições ensinam; de outro, como Jesus propõe colocar tudo isso em prática, tendo como perspectiva a superioridade do amor a Deus e ao próximo. O trecho da leitura de hoje fala de três mandamentos: “não matarás” (vv. 21-26); “não cometerás adultério” e, com ele, a autorização para o divórcio (vv. 27-32); “não prometerás falsamente” (vv. 33-37).

Devemos notar que Jesus não diminui o valor destes preceitos, mas, ao contrário, faz deles uma aplicação ainda mais rígida: irritar-se com alguém e xingá-lo equivale a matá-lo; desejar uma mulher já é cometer adultério; repudiar uma mulher (com o objetivo de ficar livre para se casar com outra) é empurrar a primeira esposa ao adultério; fazer qualquer juramento é um modo de disfarçar a falta de sinceridade.

Não sabemos exatamente como era o matrimônio nos tempos de Jesus. Não era um sacramento como na Igreja Católica de hoje. Mas havia uma legislação que devia ser respeitada. Só que muitos homens se aproveitavam dela para ficar com uma mulher enquanto isso interessava e, depois, a descartavam. Jesus não considera isso uma coisa boa.

Chama a atenção que Jesus diga “arranca teu olho” e “corta fora tua mão”. Jesus não está mandando ninguém praticar a automutilação. Na verdade, é uma linguagem exagerada para demonstrar a necessidade de buscar o autocontrole e a disciplina dos sentidos e dos desejos. A imagem fica ainda mais forte porque Jesus usa a ideia de jogar alguém na geena, isto é, no lixão de Jerusalém. Por causa da quantidade de gases provocada pela decomposição de corpos e de comida, muitas vezes ocorriam combustões espontâneas e muito mal cheiro. Ser lançado na geena era um destino vergonhoso. É como se Jesus dissesse: quem trata uma mulher como lixo será tratado assim também!

Nos dias em que vivemos, com tantas violências, feminicídios constantes e falta de sinceridade nos compromissos publicamente assumidos, a proposta de Jesus é extremamente atual e urgente!

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Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló - Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno

OBS: Este texto pode ser compartilhado e reproduzido com a devida indicação dos autores.

 

 

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