Um estudioso persa, chamado Manés, tentou resumir a história do mundo num conflito entre o Bem e o Mal. Para ele, Bem e Mal encontravam-se em estado puro, isto é, sem mistura. As pessoas eram totalmente boas ou totalmente más. Luz e trevas estavam em luta permanente. Manés acabou assassinado, mas suas ideias não morreram. Sua herança: o maniqueísmo.

Condenado pela Igreja, a teoria maniqueísta sustenta que o corpo é mau, o espirito é bom. Além disso tem ideias radicais em relação à pessoa e à sociedade. Os meus amigos são totalmente bons, os inimigos totalmente maus. O maniqueísmo se manifesta nos grupos humanos, na política, nas torcidas de futebol e até mesmo nos movimentos da Igreja e na pastoral.

O povo consagrou esta prática: meus amigos não têm defeitos; quanto aos inimigos, se não os têm, eu invento. Os do meu grupo – fé, política, clube de futebol, organizações - são perfeitos. Os outros são falsos, maldosos, incoerentes, mentirosos, corruptos, violentos. E entre estes dois grupos não é possível o entendimento e a colaboração.

O Brasil vive um momento maniqueísta: nós contra eles. E entre nós e eles existe o abismo. De novo, é a luta do Bem contra o Mal, em estado puro. E cada um dos dois grupos encontra sólidos argumentos e veem o mundo com filtros próprios.

O Evangelho bate de frente com este modo de pensar e de julgar e nos fala do trigo e do joio. ( Mt 13,26 ) Joio e trigo são muito parecidos, possibilitando enganos. Podemos achar que é bom trigo, quando na realidade é joio: podemos também condenar como joio o que é bom trigo. Somente a colheita separará, com critérios absolutos, o trigo e o joio.

Democracia supõe partidos. Cada um deles com sua ideologia e sua prática, mas todos comprometidos com o Bem Comum. Partido é parte do todo. E não tem o dom da infalibilidade. Terminada a eleição, começa um novo momento, onde o vencedor tem o direito de organizar a sociedade na justiça e no respeito de todos. Não podemos ver nos outros inimigos, mas irmãos. Conhecido o resultado, os dois blocos devem trabalhar pelo Bem Comum. É perigoso tomar o partido do jacaré: quanto pior, melhor. Dom Helder Câmara dizia: se discordas de mim, tu me enriqueces.

Frei Aldo Colombo

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