Pensando Bem: obesos e famintos
Acompanhe todas as segundas-feiras os comentários de Frei Aldo Colombo
Confira o programa Pensando Bem desta segunda-feira, 29/01, com Frei Aldo Colombo:
“O mais genial de nossos romancistas, Machado de Assis - 1838 - 1908 - foi também um atento observador e crítico da sociedade de seu tempo. Em sua obra - Quincas Borba - narra a atitude de dois exércitos prontos para a batalha. No meio ficava um campo de batatas, objetivo das duas partes. Não poderia haver acerto, a luta decidiria o futuro. E Machado de Assis conclui com uma frase que pode servir para longa discussão social e filosófica: ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor as batatas.
A humanidade, hoje, contabiliza cerca de seis bilhões de habitantes, dividida em dois grandes grupos. Uns obesos e superalimentados, outros famintos. E torna-se cada vez mais decisiva a batalha pelo campo de batatas. Um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima que cerca de 30% dos alimentos produzidos são desperdiçados. Isto significa que 60 bilhões de quilos de comida vão parar nos depósitos de lixo todos os anos. São 141 trilhões de calorias não consumidas, anualmente, nos Estados Unidos.
Carnes, aves e peixes, alimentos nobres, lideram o desperdício: 30%. A lista continua com vegetais 19% e produtos lácteos (17%) Dos alimentos disponíveis nos supermercados e restaurantes, 10% são desperdiçados. Curiosamente, 21% dos produtos adquiridos e pagos pelos consumidores, também se perdem.
Esta falta de critérios ocasiona dois problemas, quase insolúveis: aumento da obesidade e o aumento assustador dos depósitos de lixo. A obesidade afeta 35,7% da população. O processo de decomposição de alimentos libera metano e dióxido de carbono, causadores do aquecimento global. E o futuro se apresenta cada vez mais sombrio, pois a população da Terra deverá crescer em mais 2 bilhões até 2050 e isso exigirá um aumento de 70% na produção de alimentos.
Contrapondo-se a estes escândalos entre os famintos e os esbanjadores, surge a luminosidade dos ensinamentos de Jesus. Após a multiplicação dos pães e peixes, a ordem de recolher a sobras para que nada se perca ( Jo 6,12) E ao longo da narrativa surgem três hipóteses de trabalho: a dos fatalistas: manda embora porque não há pão; a dos economistas: nem trezentos denários seriam suficientes para um pedaço de pão e -enfim - a proposta da solidariedade: um menino com alguns pães e peixes.
Os meios são poucos? O Evangelho espera - exige - que façamos o que podemos com o pouco que temos. Já o Deuteronômio é inciso: escolhe entre o bem e o mal, entre a vida e a morte. ( Dt 30,15) É a grande encruzilhada de nosso tempo: dois grupos em luta e no meio um campo de batatas. E a fome não é boa conselheira".
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