Pensando Bem: prisão para minha mãe
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É impossível esquecer o que ela me fez. Deveria ser presa. De preferência prisão perpétua. Ela, na infância, alguma vezes me ameaçou brandindo o chinelo, colocou-me de castigo, me fez rezar todas as noites, todo o dia exigia que eu fosse à escola. Mesmo sendo quase analfabeta, examinava todos dias os meus cadernos. Aos 14 anos, me botou para trabalhar. Nesta época não se falava da “exploração” de mão de obra infantil.
Suas arbitrariedades não terminavam ai. Impedia-me de sair com meus melhores amigos, só porque eles usavam drogas, ingeriam bebidas alcoólica e praticavam pequenos furtos. Lá pelas tantas cismou que eu deveria ingressar na Universidade. Tanto fez que dobrou minha vontade. Ainda agora, telefona para saber se eu estou resfriado, como vão os filhos e se eu estou ensinando a eles a rezar.
É preciso reconhecer, a seu favor, algumas coisas. Às vezes, passava a mão, com ternura em meus cabelos, enxugava minhas lágrimas, sempre sabia como curar feridas e febres, com o chá certo em cada ocasião. E quando algum insucesso me aborrecia, sorrindo ela dizia: isto não é nada, vai passar.
À distância e os anos pesam sobre ela e eu não mudei de opinião. Minha mãe merece prisão perpétua...em meu coração, porque fez de mim uma pessoa de bem. Foi a mestra que me ensinou a distinguir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre as aparências e a realidade. Ela me ensinou existem fronteiras que não devem ser ultrapassadas. Minha mãe sempre me ensinou que o Sim e o Não fazem arte de nossa vida e da arte de educar.
Ela não se preocupou em apontar o bom caminho. Apenas recomendava: meu filho, caminha comigo pois eu estou no bom caminho. Ela me deixou uma norma: quando estiver em dúvida, imagine o que diria sua mãe. Isto significa que ela continua me perseguindo. Ela continua merecendo a cadeia.
Obrigado, mãe porque você forjou o meu caráter, me ensiou a viver em paz com todos e efz de mim uma pessoa honrada. Mesmo depois que você partir deste mundo – no céu há uma sala especial para as mães – você continuará presa nas cadeiras de minha gratidão e do meu amor. Bênção, mãe!
Frei Aldo Colombo
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