Saúde & Bem-Estar: a infância na atualidade
A psicóloga Letícia Marcolin Filippi explicou que muitos pais estão criando crianças melancólicas. O excesso de vontades atendidas pode dar origem a uma geração incapaz de lidar com frustrações
Quando falamos em infância, logo nos vem na memória a ideia de brincadeira, da fantasia, do encontro com os amiguinhos e de muita travessura. Porém, na atualidade, não é bem assim. Este traço da infância está cada vez mais apagado, no lugar da imaginação, do “era uma vez”, temos visto muitas crianças sem objetivos e com pouca intenção de fantasiar.
São crianças mergulhadas no mundo do tanto faz, do virtual, capturadas pelas telinhas dos celulares e computadores, sem interação real. São pequenas crianças melancólicas.
E, para falar sobre este assunto o programa Saúde & Bem-Estar deste sábado, 01/07, conversou com a psicóloga clínica e educacional, Letícia Marcolin Filippi.
Membro/proponente da Escola de Estudos Psicanalíticos FreudLacan e cursando Especialização em Problemas do Desenvolvimento Infantil e Adolescente com Interface Interdisciplinar- Centro Lydia Coriat de Porto Alegre, a psicóloga explicou que é comum ouvir pessoas que tenham por volta de quarenta ou cinquenta anos dizendo, “nós tínhamos tão pouco, mas deste pouco fazíamos muito”. Este era um tempo anterior a era da televisão e do consumismo desenfreado. Com tantas faltas, os sujeitos se viam capacitados a desejar, a buscar por novas experiências, um futuro diferente daquele que muitas vezes encontravam nas suas casas. Este pouco, as colocavam para frente.
A fantasia corria solta. Um tempo de muita criatividade, de empenho e muitos ideais. Elas ensaiavam o mundo futuro, brincando. É através do brincar, que a criança se posiciona no mundo adulto. Hoje, no entanto, infelizmente pouco vivenciamos cenas como estas. A melancolia, isto é, um estado físico e psíquico, que torna a pessoa apática, sem vontade de nada e mergulhada na tristeza, tem sido a realidade de muitas crianças que vivem no mundo do “nada serve; tanto faz; nada me agrada”.
Conforme a psicóloga, os pais precisam ficar atentos, pois a melancolia pode desencadear transtornos. Na atualidade fantil, destacam-se três grandes epidemias: a primeira é o que chamamos de Transtorno Espectro Autista que acomete as crianças pequenas; a outra Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- que engloba mais as crianças em período escolar; e o terceiro, é o que tem sido denominado por transtorno bipolar, que tem uma faceta que é depressiva e outra maníaca.
Os sintomas não são de ordem individual. Letícia explica que pelo menos 100 anos atrás, a educação era bastante opressora, rígida ao seu extremo e isto produzia crianças inibidas, pouco exploradoras do ambiente. Já na atualidade, podemos observar o oposto, uma sociedade que evita todo e qualquer sofrimento aos filhos. Desta forma, quando os pais estão tristes, poupam a criança de também experimentar a tristeza, justamente aí podemos estar empurrando uma criança na direção da melancolia.
Uma criança que tem tudo pode não ter o que realmente precisa. Como ela vai aprender a lidar com os obstáculos e perdas da vida? Os adultos estão preocupados em preencher as crianças de felicidade. Mas, temos que possibilitar oportunidades para que elas possam ter experiência para suportar a realidade, pois no futuro teremos inevitavelmente que se colocar autores da nossa vida e com isto, suportar perdas, e também prosseguir.
Acompanhe o programa completo no link, "Escute a Notícia".
Comentários