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Por que ficamos para trás?

Miguel Debiasi

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que exerce o comando do Ministério do Desenvolvido, Indústria, Comércio e Serviço, percorrendo o país reunindo a classe de empresários, tem argumentado da necessidade de uma Nova Indústria Brasileira. As estatísticas sobre o setor industrial têm justificado essa necessidade. Diretamente ou indiretamente, esse assunto diz respeito a todos os brasileiros.

Nesse debate por uma Nova Indústria Brasileira, como espectadores que ficamos a distância dos primeiros envolvidos nessa discussão, entramos com algumas perguntas: Por que ficamos para trás? Existe uma relação entre a inovação industrial e políticas públicas? Há alguma relação entre falta de inovação industrial com a educação e com a qualificação da mão-de-obra? Há alguma relação entre inovação industrial e desigualdade social?

Parece-nos bastante óbvio que muita gente se faz essas perguntas. Entre estes, o governo federal, senão não iniciaria um debate sobre essa necessidade. Os empresários brasileiros estão nessa lista como os primeiros interessados. Professores, economistas, trabalhadores e muitos brasileiros fomentaram esse debate. Com efeito, as perguntas exigem respostas. A resposta é sempre um indicativo de superação da problemática do setor industrial.

No calor do debate, economistas e historiadores têm atribuído responsabilidade ao governo de Ernesto Geisel (1974-1979) pela quebra do ritmo de crescimento do país devido à sua política de estatismo autárquico. Outros responsabilizam o último general brasileiro no governo do país, João Batista Figueiredo (1979-1985), pelo colapso da acumulação de capital e a estagnação da produtividade.

Para o economista Samuel de Abreu Pessôa, professor da pós-graduação em economia da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (EPGE/FGV) e chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) – a desaceleração do crescimento se explica pela combinação de problemas que já existiam anteriormente, período Geisel e Figueiredo. O problema está relacionado à economia fechada ou antiliberal e a dificuldade de o sistema político pós-redemocratização resolver as disputas por recursos públicos de modo compatível com o crescimento econômico. Em outras palavras, a baixa inovação industrial está associada a funcionalidade e disfuncionalidade da democracia.

Para o grupo de economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as causas por termos ficado para trás na indústria são: O Brasil se industrializou tardiamente. A trajetória de rumo à industrialização ganhou impulso a partir da crise de exportação de commodity ou commodities em 1929. O termo commodity significa mercadoria como um todo, ou de produtos básicos de matéria-prima. Esta razão está associada a alta desigualdade social e econômica do país, poucos investimentos para a educação, para qualificação da classe trabalhadora e para o desenvolvimento da infraestrutura do país.

Estes mesmos economistas destacam líderes políticos que buscaram colocar o setor industrial do país num patamar mais elevado, como: Getúlio Vargas, que foi presidente do Brasil por quase vinte anos (1934-1945; 1951-1954), lançou as bases para a industrialização do país, criando a empresas como a Vale, a Petrobrás e o BNDES.

O vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, numa conversa com um grupo de empresários do Brasil apresentaram suas respostas com números associados ao desempenho da indústria brasileira. Segundo estas personagens políticas, apenas 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é representado pelo setor industrial. Já na década de 1980 chegou à participação de 30%. Entre as décadas de 1930 a 1980 o Brasil, a indústria do país tinha um crescimento maior até mesmo dos países da China e da Coreia do Sul.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e empresários da entidade industrial projetam como positiva a política para uma Nova Indústria Brasileira. O vice-presidente da CNI, Léo de Castro, ressaltou a relevância da participação do setor público na retomada da indústria nacional. A iniciativa do governo representa uma política pública moderna, buscando impulsionar o desenvolvimento sustentável por meio de investimento, produtividade, exportação, inovação e geração de empregos. Este é um passo positivo em direção a neoindustrialização do país, enfatizou o vice-presidente da CNI.

A entidade industrial está positiva porque serão destinados R$ 300 bilhões para os financiamentos até 2026, com R$ 194 bilhões adicionais redirecionados para dar suporte às prioridades da Nova Indústria Brasil. O plano da retomada da Indústria proposto em 2023 pelo governo federal, estabelece metas para seis setores, abrangendo áreas como agroindústria, saúde, infraestrutura, saúde, infraestrutura, transformação digital, bioeconomia e tecnologias de interesse nacional.

Ninguém estaria contra essa política pública em colocar a indústria brasileira no cenário global. Mas o governo, entidades e o Brasil como um todo, assumissem metas de colocar a educação da população brasileira em níveis semelhantes aos países que estão no topo do ranking mundial, como: Finlândia, Coreia do Sul, Japão, Cingapura, China. O veredito vale para ambos os lados e realidade: “se nenhum país se desenvolve sem uma indústria forte”, frase do presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, também, nenhum país se desenvolve sem uma educação de qualidade.

O plano de reindustrialização pode inspirar a todos para um ambicioso plano para a educação, qualificação de mão-de-obra, capacitação profissional e científica do povo. Se ficamos para trás na indústria é porque também estamos longe de alcançar os melhores índices em outros setores, fundamentais da sociedade. Enfim, é preciso uma Nova Indústria e Novas Políticas Educacionais, de Desenvolvimento, Ecológicas ...

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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