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O trabalho é atividade divina e humana

Miguel Debiasi

Há poucos dias postamos uma reflexão sobre o trabalho, por ocasião do dia 1º de maio, alguns leitores solicitaram um outro texto abordando o mesmo assunto. O trabalho é uma atividade divina e humana, portanto, fundamental para desenvolvimento da obra de Deus e para a vida humana. Ambos, Deus e ser humano, se realizam no trabalho digno, justo e ético.

No momento atual da sociedade, observa-se uma perspectiva de melhora das condições de trabalho e dos trabalhadores. Isto já diz que superamos uma visão pessimista com relação ao trabalho e aos trabalhadores. Essa visão é coerente com a perspectiva bíblica, na qual, compreende-se o trabalho de Deus em prol do bem de seus filhos e filhas. Com facilidade pelos textos bíblicos compreendemos o trabalho como um dom, uma dádiva, uma oferta de Deus em benefício do ser humano e para a realização de seu plano salvífico.

Ao estudarmos os textos bíblicos podemos refletir sobre o trabalho através de princípios que são relevantes para Deus e para evolução de sua criação, portanto, também do ser humano. Para facilitar os leitores fazemos uso de passagens bíblicas numa ordem que estão organizadas na Escritura Sagrada.

O trabalho é ideal para evoluir a criação de Deus. A narrativa bíblica é: “Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para cultivar e guardar” (Gênesis 2,15). Deus ao colocar o homem nessa missão de cultivar e guardar é para desenvolver sua criação de forma integrada de seres vivos e de criaturas. Ao designar essa atividade ao ser humano significa que Deus deixou em aberto o processo da criação em todo seu potencial. Na lógica de Deus todos os seres humanos precisam de trabalho, pelo qual, desenvolver dignamente a sua obra criada.

A criação se desenvolve por meio do trabalho como atividade de maturação do ser humano. A narrativa bíblica é: “Com o suor de teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado” (Gênesis 3,19). Deus não olhou para a desobediência de Adão e Eva ou como pecadores, mas como filhos necessitados de sua graça. O trabalho ainda que seja fatigante é pedagogia para o crescimento humano. Então, arar a terra e cultivá-la não é um trabalho penoso, mas a condição do ser humano crescer em espírito e na compreensão de participante primeiro da criação de Deus.

O tempo de trabalho deve ser o suficiente e com seu devido descanso para proporcionar espaço para Deus, família e comunidade. A narrativa bíblica é: “Seis dias trabalharás; mas no sétimo descansarás, quer na aradura quer na colheita” (Êxodo 34,21). O ser humano pode tornar-se escravo do trabalho, como foi no Egito. As jornadas de trabalho precisam ser condizentes com a natureza humana, a fim de manter um tempo suficiente para Deus, para sua família e comunidade. Entre o trabalho e o ser humano deve manter-se uma relação produtiva com a criação de Deus e para o benefício ao próximo.

O trabalho é dom e fonte de alegria para o ser humano. A narrativa bíblica é: “Eis que a felicidade do homem é comer e beber, desfrutando do produto do ser trabalho; e vejo que também que isso venha das mãos de Deus” (Eclesiastes 2,24). O trabalho não é vaidade das vaidades, mas uma atividade que exige que seja executada sempre da melhor forma possível, pois, dela depende o sustento e a felicidade do ser humano. Todos os filhos e filhas de Deus precisam de trabalho, vivenciado como esta atividade de excelência e reconhecimento de uma dádiva, um presente a ser merecido.

Nessa perspectiva bíblica Deus é o nosso “patrão” que zela pelos seus trabalhadores. A narrativa bíblica é: "Servos, obedecei em tudo aos senhores desta vida, mas em simplicidade de coração, no temor do Senhor. Em tudo quanto fizerdes ponde a vossa alma, como para o Senhor e não para os homens, sabendo que o Senhor vos recompensará como seus herdeiros: é Cristo o Senhor a quem servis” (Colossenses 3,22-24). Este é um outro princípio que deve ser como fonte de motivação pessoal para que todo o trabalho seja reconhecido pelos humanos, a ponto de tornarem-se como herdeiros da obra de Deus.

Ainda nesta direção, o trabalho deve ser realizado com diligência. A narrativa bíblica é: “Nós, porém, vos exortamos, irmãos, a progredir cada vez mais. Empenhai a vossa honra em levar a vida tranquila, ocupar-vos dos vossos negócios, e trabalhar com vossas mãos, conforme as nossas diretrizes. Assim, levareis vida honrada aos olhos dos de fora, e não tereis necessidade de ninguém” (1Tessalonicenses 4,10-12). Paulo, apóstolo, está dizendo que todo cristão ou qualquer pessoa deveria buscar ser mais dedicado e eficiente trabalhador de sua empresa ou em uma e outra atividade que lhe foi confiada. Um trabalhador empenhado também será um trabalhador honrado e respeitado, assim, torna-se uma grande oportunidade para aprimorar-se também na obra de Deus.

O trabalho deve ser justo a ponto de considerar realizar a justiça de Deus. A narrativa bíblica é: “Sede, pois, pacientes, irmãos, até a vinda do Senhor. Irmãos, não murmureis uns contra os outros, para que não sejais julgados. Lembrai-vos de que o juiz está às portas” (Tiago 5,7.9). São Tiago neste capítulo cinco denuncia o abuso dos ricos com relação aos seus servos e empregados. Os ricos enriquecem por negar aquilo que é justo aos seus trabalhadores. Este princípio está dizendo que todos os trabalhadores precisam recorrer a seus direitos trabalhistas e diante da situação injusta não perder a confiança no Justo Juiz.

Para concluir, o trabalho é uma atividade divina. A narrativa bíblica é: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (João 5,17). Deus está sempre trabalhando produtivamente sobre sua criação. Por conseguinte, podemos definir o trabalho de Deus como uma ação de providência divina. Logo, um trabalho de Deus foi nos ter criado a sua imagem e semelhança. Outro é o Filho que trabalha pela nossa salvação. Estando sempre em trabalho, pela ação do Espírito Santo nos move diariamente para uma atividade produtiva, digna e merecedora da salvação.

Enfim, o trabalho é uma atividade de Deus e do ser humano. Deus espera que ambos possam trabalhar juntos e com a mesma finalidade, isto para o bem da criação, portanto, para o ser humano também. Assim, todo trabalho torna-se sinônimo de digno, justo e ético.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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