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As virtudes substanciais

Miguel Debiasi

Na opinião dos teóricos que estudam os comportamentos influenciados pela cultura contemporânea, um dos problemas da sociedade moderna é a ausência de virtudes cardeais. As virtudes cardeais são inseparáveis de um projeto de vida. São elas: a sabedoria ou prudência, fortaleza ou coragem, temperança e justiça. A origem das virtudes cardeais é atribuída a Platão, que na obra República indica as qualidades para constituir o bem comum da cidade.

O termo cardeal vem de gonzo, significa dobradiça. Quer dizer, são as virtudes essenciais nas quais todas as outras se apoiam. Isto é, as virtudes básicas para toda e qualquer ação humana. Virtude é a disposição de praticar o bem, algo que vai muito além de um simples potencial ou capacidade de praticar boas ações. Trata-se de uma indiscutível inclinação.

A constatação dos teóricos pode ser verdadeira. Porém, as objeções às suas afirmações são lógicas e compreensíveis, pois o comportamento humano tem demonstrado abrigar-se nessas virtudes. A sociedade é reflexo de seu agir, mas o problema da sociedade moderna não se restringe ao comportamento humano. Atualmente o homem vivencia a liberdade, o autoconhecimento e o livre-arbítrio. Mesmo assim, teóricos entendem que as virtudes cardeais estão distantes dos hábitos comportamentais.

Na verdade, todo comportamento está relacionado a um projeto de vida que possui o seu centro e a sua razão de ser assumido. Ao considerar isto, parece evidente que a razão de ser de quem se dedica à política pública é o trabalho pelo bem comum. Para os desportistas, vencer é o aceitável. Transmitir conhecimento e aprendizagem é ofício dos pedagogos. Cuidar da saúde da população é meta dos profissionais da medicina.

Olhando assim, o projeto de vida pessoal é muito importante, até decisivo. Quer dizer, é como as virtudes pessoais se realizam. Em tudo isto é fácil perceber que a vida depende muito das virtudes empregadas. Salvo por vezes, quando não é fácil conciliar e harmonizar o projeto pessoal com as circunstâncias. Em contexto de liberdade projetos incompatíveis são intoleráveis ao livre-arbítrio. Por isso, não é de estranhar que com frequência as pessoas tenham atos de intolerância com os demais e até mesmo sintam-se incapazes de tolerar os que se opõem às suas opções. Ademais, o projeto de vida pessoal tem sua originalidade e grandeza. Em última instância, é o motivo palpitante de suas escolhas. 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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