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Ano Santo da Misericórdia I

Miguel Debiasi

No dia 8 de dezembro, data da festa da Imaculada Conceição, o papa Francisco, em Roma, abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro e lançará o Ano Santo, com o tema da Misericórdia de Deus. O Ano Santo perdurará até 20 de novembro de 2016, quando será encerrado na festa de Cristo Rei. O ano também é chamado de Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Assim, o papa convoca a Igreja e todos os cristãos a sentirem mais responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor de Deus para com a humanidade e toda a criação.

A iniciativa de Francisco ao propor o Ano Santo tem suporte em dois pilares, um de caráter histórico e outro mais de carisma pessoal. O histórico liga-se ao fato de que em 8 de dezembro de 1965 encerrava-se o Concílio Ecumênico Vaticano II (11/10/1962 – 08/12/1965). Por recordar o cinquentenário de conclusão do Concílio, a data é cheia de significado para a Igreja e para cristãos. No discurso de abertura do Concílio o papa João XXIII, hoje santo (pontificado de 4/11/1958 a 3/6/1963), indica a senda: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade”. Com o Concílio Ecumênico o pontífice desejava para a Igreja Católica muito além do facho de verdade religiosa, “mostrar a mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados”, conforme o documento preparatório Gaudet Mater Ecclesia.

O seu sucessor, o papa Paulo VI, hoje beato (pontificado de 29/06/1963 a 06/08/1978), na conclusão do Concílio seguiu o mesmo horizonte do antecessor: “desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a caridade. Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio”. Ademais, o tema da misericórdia norteou os padres conciliares para admiração e aproximação do mundo atual. Assim se fez no Concílio, rejeitaram-se os erros e posturas da Igreja, e salvaguardou-se sempre o preceito do respeito e do amor. Esta postura sem dúvida foi como um remédio cheio de esperança para a Igreja que deseja reconciliar-se com o mundo. E por outro lado, o mundo esperava ver uma Igreja mais aberta, com palavras de confiança ao homem para buscar honrar os valores humanos. Esta justificativa histórica do Ano Santo vai ao encontro da intenção de Francisco que deseja uma nova primavera para a Igreja com relação ao mundo.

O outro pilar do Ano Santo nasce mais do carisma pessoal do papa Francisco. Em muitas homilias e em celebrações o papa Francisco fala da misericórdia. Em uma delas referiu-se ao Evangelho da mulher pecadora que lava os pés de Jesus e os enxuga com os cabelos, beijando e ungindo-os com óleo perfumado. O papa vê neste episódio que Jesus, o rosto da misericórdia, permite que a mulher encontre o amor de Deus pela sua vida. No próximo artigo teremos a continuidade da reflexão.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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