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Abra portas!

Miguel Debiasi

Em alusão ao Ano Santo da Misericórdia proposto pelo papa Francisco, para abrir uma Porta Santa em cada catedral, é importante refletir sobre o significado do ato para a humanidade e para a Igreja. A iniciativa aponta para maior abertura teológica, de aproximação entre diferentes e de encontro com Cristo, o Rosto da Misericórdia. Neste seguimento, a Porta Santa pode estar bem próxima às pessoas a combater indiferenças, intolerâncias, preconceitos, ódio, guerras.

Todos os dias passamos por muitas portas e nenhuma é igual. Ao passar por elas, nem reparamos em seus detalhes. Umas são mais altas. Outras são largas. Existem portas de madeira simples. Outras são mais sofisticadas. A maioria das portas é presa aos marcos e por meio de dobradiças. Algumas são corrediças. Uma porta tem muitas funções, entre elas a de proporcionar uma barreira de proteção física, visual, acústica, ou de ligação ou separação de espaços. A porta também expressa um papel social, político, espiritual, psicológico. Neste sentido, era comum em cidades antigas a construção de portas com este simbolismo.

Em Jerusalém há doze portas com significado teológico, espiritual, bíblico. Entre elas está a Porta dos Peixes, que representa a volta dos pescadores que acreditaram na pregação de Jesus e obtiveram a pesca milagrosa. Também as demais portas da cidade de Jerusalém representam fatos da História da Salvação. A cidade de Assis, na Itália, possui oito portas que dão acesso às principais basílicas, como as de São Francisco e de Santa Clara. Precisamente por este patrimônio espiritual, humano e social a cidade de Assis é hoje uma das mais visitadas pelos peregrinos. Vale lembrar as famosas Portas de Roma que desempenhavam muitas funções, como as de estratégia militar, proteger-se das guerras e dos golpes de estado, e controle e acesso em tempos normais. Da mesma forma, eram imprescindíveis para preservar a saúde pública quando ocorriam epidemias, pandemias, pestes. Ante tantas portas de históricos significados é preciso aperceber-se do sentido da Porta Santa.

Em 8 de dezembro, ao atravessar a Porta Santa do Vaticano, o papa Francisco disse que o ritual “nos compromete adotar a misericórdia do bom samaritano”. Destarte, acresce olhar a Porta Santa do Vaticano como um espaço simbólico do coração misericordioso de Deus que convida a humanidade para um momento novo, o da reconciliação. O mais significativo da Porta Santa está muito próximo da pessoa e daquilo que cada um pode ser e fazer. Nesta visão, a grande porta a ser aberta é a do coração. Isto é, a condição para a transformação da sociedade vem do coração aberto das pessoas para o outro, para o próximo. A aproximação de povos, religiões, superação do ódio, da fome, da miséria e das injustiças sociais nasce desta condição, a mudança interior das pessoas. Ademais, é possível ampliar as portas da solidariedade, da acolhida, da justiça, da dignidade, do bem comum.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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