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A força das imagens

Miguel Debiasi

A imagem tem um gigantesco poder para realizar os projetos consumistas. Nas imagens há uma força que desperta desejo e consumo. Nelas contemplam-se infinitos significados. As imagens brilham como tochas incandescentes que fazem arder nossas pupilas e as pálpebras estarem sempre abertas. Em tempo em que para muitas famílias as economias são escassas, conviver com essa realidade exige discernimento para consumo.

As imagens expostas em locais de comércio e em outdoor de propaganda são um verdadeiro entorpecente capaz de provocar alterações emocionais, físicas, psíquicas e intelectuais. Com poder de cooptar consumidores, elas causam muitos efeitos colaterais, como endividamentos e inadimplência das famílias. Em 2022 a parcela de famílias brasileiras endividadas chegou a 78,3%, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Conferência Nacional do Comércio de Bens (CNC).

Sob o ponto de vista do mercado, as imagens são produzidas com o objetivo de atrair consumidores e despertar o desejo de consumo. O consumidor é analisado dentro de seu contexto cultural, ou daquilo que serve e envolve sua família, crença, costumes, valores, idade, sexo e o ambiente que impacta na sua formação de personalidade. Essas referências socioculturais servem para ajudar o profissional de marketing a descobrir o modelo mental que dá origem ao comportamento de compra dos consumidores. Os antropólogos chamam isto de teoria do positivismo, ou do quanto mais conheço meu cliente, mais eu posso persuadi-lo. Saber da cultura do cliente é determinante para torná-lo um consumidor em potencial.  

As imagens estão para dar ordem, direção e orientação em todas as fases da solução do problema humano, incluindo as necessidades psicológicas, pessoais e sociais. Elas estabelecem uma hierarquia de necessidades a qual o ser humano percorre por toda vida. Numa ordem de importância das necessidades, as imagens são expostas estrategicamente na seguinte escala: necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades de respeito e necessidade de autorrealização. Criam-se imagens a partir de um conjunto de atitudes, especialmente dirigidas ao seu público alvo, seus prediletos consumidores.

Mas o conceito de imagem é muito amplo. Imagem é um termo que provém do latim imãgo e que se refere à figura, representação, semelhança ou aparência de algo, do tipo: “essa pedra tem o formato de um coração humano”. A imagem também é a representação visual de um objeto através de técnicas da fotografia, da pintura, do desenho, do tipo: “a foto em preto e branco é bonita”. Outro conceito está relacionado às imagens de arte sacra ou sagradas, do tipo estátuas, telas ou efígies como das pessoas da Santíssima Trindade e de santos, do tipo; “a imagem Santo Antônio é muito venerada pelos casais e namorados”. A medicina também recorre a imagem, para referir-se a exames que conseguem ver a parte interna do corpo sem a necessidade de invasão, conhecidas como “exames de imagem”. Com essas imagens os profissionais da medicina conseguem identificar várias doenças e fazer o tratamento precocemente.

Outro conceito que faz uso desse termo é “imagem negativa” que é quando a cor de uma imagem é invertida, mas também pode significar que uma pessoa não tem uma boa reputação. Já uma imagem positiva é um termo usado quando uma pessoa possui uma boa reputação. Há também a imagem corporativa que significa o conjunto de qualidades que os consumidores atribuem a uma empresa. Por outras palavras, a imagem está associada àquilo que a empresa significa e representa para a sociedade. 

Há outros conceitos de imagem, mas ficamos com aquelas apresentadas como instrumento de propaganda para induzir e seduzir consumidores. A overdose de imagens pode tornar as pessoas viciadas e dependentes do consumo. Esta possibilidade é real. Diante delas o ser humano sente-se estimulado a aumentar seu apetite de posse e de consumo. Elas têm poder de enfeitiçar a mente e a alma, como isso proporciona até mesmo espetáculos artificiais e fantasias. Quando se chega a esse estágio os olhos estão doentes e a mente e a alma embriagados. Nesse estágio fica difícil fechar os olhos e discernir sabiamente.

Segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Conferência Nacional do Comércio de Bens (CNC), as famílias compram por impulso. São compras não realizadas de forma planejada, sendo impulsionadas por um desejo momentâneo, desconsiderando as dívidas, condições financeiras e a real necessidade do produto. É uma decisão motivada pela euforia e gera um bem-estar curto, decorrente do prazer de comprar e de consumo.

Esta é a realidade que envolve 78% das famílias do país. Fica difícil fechar os olhos para esta realidade que aflige milhões de brasileiros. As imagens incentivando compras estão por todas as partes e diante de nossos olhos o tempo todo. Os olhos embriagados não se fecham e fica difícil reagir ao incentivo ao consumo, e este, atordoa as pessoas para que sejam consumidores. A força das imagens converte as pessoas em consumidores em muitos casos chega ao estado compulsivo.

Para reagir é preciso perguntar-se: qual o caminho para a superação do endividamento das famílias brasileiras? Talvez um caminho consiste em maior formação e orientação das pessoas. Outro pode ser apresentado por políticas públicas direcionadas à sustentabilidade das famílias. Um outro caminho seria a elevação do valor do salário mínimo. Certamente, outros caminhos podem ser incentivados para que todas as famílias brasileiras possam ter acesso aos produtos de consumo e assegurar uma vida adimplente. Enfim, uma boa reputação econômica das famílias impacta de forma positiva no crescimento humano do país frente ao mundo.

     

 

 

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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